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segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

CAPÍTULO 01

 


FILHO AMADO
CAPÍTULO 001

novela escrita por: MARCOS CASTELLI e DOUGLAS ARAÚJO
direção artística: FRED MAYRINK

Participam deste capítulo

Danilo Mesquita como Francisco
Carol Macedo como Sônia
Eliane Giardini como Joana
Cesar Ferrario como Nestor
Cinnara Leal como Catarina
Thiago Voltolini como Manoel
Debora Ozório como Cândida (fase 1915)
Julia Lemmertz como Vivência (fase 1915)
Luis Melo como Terêncio (fase 1915)
Louise Cardoso como Matilde (fase 1915)
Alinne Moraes como Joana (fase 1915)

Xande Valois como Francisco (jovem)

Gabriella Saraivah como Sônia (jovem)

Fernanda Montenegro como Madre (fase 1915)


CENA 01. QUARTO CÂNDIDA. INTERIOR. NOITE

Letreiro: Interior de São Paulo, 1915

Cândida deitada na cama se contorcendo de dor. Vivência, sua mãe, sentada ao seu lado e segurando sua mão.

VIVÊNCIA – (angustiada)  Seja muito forte, minha filha!

CÂNDIDA – (chorando) Estou com muito medo de morrer.

VIVÊNCIA – Deus não deixará nada de ruim acontecer com você.

Cândida continua gritando de dor.

VIVÊNCIA – Não deixa nada de ruim acontecer com a minha filha e nem com meu neto. Eu lhe peço que eles saem vivos desse sofrimento, minha nossa senhora.

Matilde entra no quarto.

VIVÊNCIA – (se levantando) Graças à Deus! Faça alguma coisa antes que seja tarde demais.

MATILDE – Pode deixar comigo.

Matilde se aproxima da cama, faz todo o procedimento e abre as pernas de Cândida.

MATILDE – Peço que faça muita força. Faça força para o bebê sair o mais rápido possível.

CÂNDIDA – (enfraquecida) Eu não tenho mais força.

MATILDE – Se deseja salvar a sua vida e a vida do seu filho... (olha séria) Terá que ser muito forte.

VIVÊNCIA – Faça o que ele está mandando, minha filha.

Cândida faz muita força, mas acaba ficando enfraquecida.

CENA 02. ESCADARIA DA FAZENDA. EXTERIOR. NOITE

Terêncio subindo a escadaria, muito apressado, quando ouve Cândida gritando escandalosamente. Terêncio congela, olha preocupado para o quarto de sua filha.

CENA 03. SALA. INTERIOR. NOITE

Terêncio entrando na sala e ouve choro de bebê.

TERÊNCIO – Não... Não pode ser o que estou pensando.

CENA 04. QUARTO CÂNDIDA. INTERIOR. NOITE

Matilde com o filho de Cândida nos braços. Cândida, enfraquecida, olha para seu filho nos braços de Matilde e desmaia.

VIVÊNCIA – (preocupada) Cândida!

MATILDE – Ela desmaiou de fraqueza.

VIVÊNCIA – Eu vou mandar preparar uma sopa para ela.

Terêncio entra no quarto. Vivência surpreendida. Terêncio olha para os braços de Matilde.

VIVÊNCIA – Terêncio?

TERÊNCIO – Então era por isso que você estava escondendo a sua filha durante todo esse tempo no quarto?

VIVÊNCIA – Ela ia te contar.

TERÊNCIO – (gritando) Quando?

Vivência se assusta.

TERÊNCIO – (CONT'D) Quando eu estivesse morto e enterrado debaixo da terra? Estão me achando com cara de otário?

VIVÊNCIA – Vamos conversar com calma, meu marido...

TERÊNCIO – (interrompendo) Imagina o escândalo que será quando toda essa cidade descobrir que essa perdida teve um filho sem casar? Eu quero saber quem é o pai dessa criança.

VIVÊNCIA – Ele foi embora quando descobriu a gravidez.

TERÊNCIO – Eu quero essa criança maldita fora de minha casa.

VIVÊNCIA – (espantada) Você não pode fazer isso com o seu neto.

TERÊNCIO – Que neto? Eu não tenho neto.

VIVÊNCIA – Não fala assim, Terêncio.

TERÊNCIO – Você tem até o dia amanhecer para desaparecer com essa criança.

VIVÊNCIA – Mas o que eu faço?

TERÊNCIO – Faça o que você quiser, mas dentro desta casa essa criança não fica.

Terêncio se retira. Vivência olhando apreensiva para Matilde.

CENA 05. ESCADARIA DA FAZENDA. EXTERIOR. NOITE

Vivência e Matilde descendo a escadaria.
(Vivência com seu neto nos braços. Matilde segurando uma cesta).

VIVÊNCIA – O que faremos com essa criança? Ele ainda é um bebê tão pequeno e tão frágil... Minha filha sofrerá tanto quando descobrir que não poderá cuidar de seu filho.

MATILDE – É melhor dizer que a criança não resistiu.

VIVÊNCIA – Eu não posso dizer isso.

MATILDE – É melhor evitar futuros conflitos entre seu marido e sua filha. Cândida ainda é muito jovem, poderá ter outros filhos e desfrutar do desejo de ser mãe.

Vivência olhando entristecida para seu neto.

VIVÊNCIA – Entregue o meu neto para um lugar seguro.

Vivência entrega seu neto para Matilde.

MATILDE – Ele estará em um bom lugar.

Vivência entrega um medalhão de família para Matilde.

MATILDE – O que é isso?

VIVÊNCIA – Esse é o medalhão mais precioso de minha família. Quando ele se tornar um homem, ele saberá chegar até minha filha.

MATILDE – Seu neto será muito bem cuidado.

Vivência beija seu neto pela última vez. Matilde vai embora com a criança nos braços. Vivência olhando a cena e chorando...

CENA 06. QUARTO CÂNDIDA. INTERIOR. NOITE

Cândida chorando abraçada com Vivência.

CÂNDIDA – (chorosa) Não posso acreditar que Deus me castigou de uma forma tão cruel.

VIVÊNCIA – Matilde fez de tudo para salvá-lo... Mas ele não resistiu e faleceu minutos depois.

CÂNDIDA – O que a senhora fez com o corpo dele?

VIVÊNCIA – Enterramos no jardim da fazenda. Só não pousemos o nome dele por causa de seu pai.

CÂNDIDA – Eu quero que ele seja enterrado como gente.

VIVÊNCIA – Como você quiser, minha querida.

CENA 07. JARDIM DA FAZENDA. EXTERIOR. DIA

Cândida e Vivência se aproximando do túmulo. Cândida segurando um buquê de flores, ainda chorosa, olhos avermelhados. Vivência entristecida. Terêncio observando a cena da sacada do quarto. Cândida joga o buquê no túmulo e retorna a chorar. Vivência olha para Terêncio. Terêncio fecha a cara e entra. Cândida e Vivência se afastam... A CAM se aproxima do túmulo.

CENA 08. ORFANATO NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. RODA DOS EXPOSTOS. EXTERIOR. DIA

Matilde se aproximando do orfanato... Sobe a escadaria e vai até a roda dos expostos.

MATILDE – Tenho certeza que aqui você será muito amado.

Matilde cuidadosamente põe o bebê dentro do cilindro e roda o cilindro para dentro do orfanato. Matilde se retira rapidamente.

CENA 09. ORFANATO NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. INTERIOR. DIA

Joana se aproxima da roda dos expostos e se depara com o bebê dentro do cilindro. Joana rapidamente põe o bebê nos braços. Madre se aproxima de Joana.

MADRE – Mais uma criança sendo rejeitada?

JOANA – Infelizmente.

MADRE – É menina ou menino?

JOANA – É um menino lindo.

MADRE – Pelo visto deixaram um medalhão com ele.

Joana pega o medalhão.

JOANA – A mãe com certeza queria deixar uma lembrança.

MADRE – Esse medalhão está me parecendo uma pista sobre o verdadeiro paradeiro do menino.

JOANA – Será, Madre?

MADRE – A mãe dessa criança com certeza quer que ele a encontre quando for um homem.

JOANA – E essa será sua vontade.

MADRE – Não dará um nome para ele?

JOANA – Eu?

MADRE – Deixarei essa missão para você.

Madre sorri para Joana e se afasta... Joana olha para o rosto do bebê.

JOANA – Seu nome será... Francisco! Francisco será o seu nome a partir de hoje.

Joana olhando emocionada para Francisco.

CENA 10. ORFANATO NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. CANTINA. INTERIOR. DIA

Letreiro: Alguns anos depois...

Francisco sentado na cadeira. Muitas crianças ao redor de Francisco. Joana pondo o bolo sobre a mesa. Heitor observando pela brecha da porta da cantina, encara com ódio, se retira lentamente...

JOANA – Vamos cantar parabéns?

FRANCISCO – Falta uma pessoa.

JOANA – Quem?

Sônia entra na cantina. Joana olha. Francisco abre um sorriso.

SÔNIA – Cheguei na hora certa?

FRANCISCO – No momento exato.

Francisco e Sônia se olhando fixamente...

JOANA – Seja bem vinda, Sônia! Se aproxime.

Sônia se aproxima.

JOANA – Podemos agora?

FRANCISCO – Sim.

Joana acende a vela. (todos cantando parabéns - em off) Francisco e Sônia trocando olhares...

CENA 11. CACHOEIRA. EXTERIOR. DIA

Francisco e Sônia entrando correndo na cachoeira.

FRANCISCO – Eu não posso demorar muito. Se não a Madre desconfia da minha ausência e pode me punir.

SÔNIA – Prometo que não vamos demorar.

FRANCISCO – E o que você quer me dar?

Sônia mostra dois anéis para Francisco.

FRANCISCO – É um anel?

SÔNIA – É um anel caseiro que eu mesma fiz. Você gostou?

FRANCISCO – Eu amei! Nunca tinha ganhado um presente tão bonito e significativo na minha vida.

SÔNIA – Eu quero te fazer uma pergunta.

FRANCISCO – Então me faça a pergunta.

SÔNIA – Você quer namorar comigo?

Francisco surpreso com a pergunta.

SÔNIA – Não vai me responder?

FRANCISCO – Eu... Eu não estava esperando por isso.

SÔNIA – Então me diga a sua resposta.

FRANCISCO – É claro que eu quero namorar com você.

Sônia sorri e abraça Francisco. Francisco pega um anel e põe no dedo de Sônia. Sônia também põe o anel no dedo de Francisco. Os dois sorriem um para o outro e se beijam...

FRANCISCO – Esse beijo é um segredo nosso. Será que agora podemos pular na água?

Sônia segura na mão de Francisco, se olham fixamente e pulam (CAM lenta) na água. Mostra os dois nadando debaixo d'água...

Letreiro: alguns anos depois...

Sônia saindo debaixo d'água (já adulta).

SÔNIA – Francisco?

Francisco sai debaixo d'água e assusta Sônia.

SÔNIA – Quer me matar do coração?

FRANCISCO – Do coração não, mas... (puxa ela).

Francisco e Sônia se beijam apaixonadamente...

SÔNIA – Eu queria tanto ficar com você.

FRANCISCO – É o que mais desejo. Só que seus pais não permitem o nosso namoro.

SÔNIA – Por que não fugimos? Essa é a única solução pra ficarmos juntos pra sempre.

FRANCISCO – E vamos sobreviver de quê? Eu não trabalho, sou apenas o coroinha da igreja e moro de favor num simples orfanato que eu morei desde quando me conheço por gente. Infelizmente, não temos condições de fugimos juntos.

SÔNIA – O que faremos então? Minha mãe já está na procura de um pretendente pra mim.

FRANCISCO – Vamos dar um jeito. Uma hora ou outra os seus pais terão que aceitar que nós dois fomos feitos um para o outro.

SÔNIA – (abraça) Eu te amo tanto!

FRANCISCO – Eu também te amo!

Francisco e Sônia se beijam...

CENA 12. ORFANATO NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. QUARTO FRANCISCO. INTERIOR. DIA

Francisco trocando de roupa. (batidas na porta)

FRANCISCO – Só um momento.

Francisco veste a blusa.

FRANCISCO – Pode entrar.

Joana entra no quarto.

FRANCISCO – A bênção madrinha.

JOANA – Deus te abençoe, meu querido. Por que demorou tanto para retornar? Estávamos precisando de sua opinião sobre o projeto da escola.

FRANCISCO – Eu estava na cachoeira com a Sônia.

JOANA – Não acredito que vocês estão se encontrando de novo. Se esqueceu que os pais dela são contra o romance de vocês?

FRANCISCO – Eu sei muito bem disso madrinha, mas não podemos evitar o que sentimos um pelo o outro.

JOANA – Mas pode evitar uma futura tragédia. O pai dela é um homem muito perigoso, Francisco, não se esqueça disso. Se ele desconfiar que você está se encontrando as escondidas com a Sônia... (respira, preocupada) Eu nem quero pensar no pior.

FRANCISCO – Não se preocupar comigo madrinha.

JOANA – Você sabe que eu me preocupo.

Francisco abraça Joana.

FRANCISCO – Eu ainda vou conquistar a confiança do Nestor. Não vou desistir tão fácil da mulher que eu tanto amo.

JOANA – Espero que você esteja certo sobre essa decisão.

FRANCISCO – Nunca tive tanta certeza em toda minha vida.

Francisco determinado.

CENA 13. QUARTO SÔNIA. INTERIOR. DIA

Sônia entra no quarto e se depara com Nestor.

SÔNIA – (sem reação) Pai?

NESTOR – (sério) Posso saber o que a senhorita estava fazendo fora de casa?

SÔNIA – Eu... Eu estava com algumas amigas.

NESTOR – (sério) Que amigas? Eu não me recordo de você ter amigas na cidade. (repara na roupa molhada) E muito menos que essas amigas gostavam de tomar banho na cachoeira.

SÔNIA – O senhor está desconfiando de mim? Será que nunca pode acreditar nas minhas palavras?

NESTOR – (sério) Como é que eu posso acreditar nas palavras de uma mentirosa? Eu sei muito bem que você estava com aquele sem futuro do Francisco. O seu irmão viu vocês dois de sem-vergonhice na cachoeira.

SÔNIA – (nervosa) Não estávamos fazendo nada demais.

Nestor segura no braço de Sônia.

NESTOR – (gritando) O que eu já falei sobre vocês dois? Eu não quero você se namorico com o Francisco. Daqui a pouco toda a cidade está comentando sobre você.

SÔNIA – Eu amo o Francisco, meu pai.

Nestor dá um tapa no rosto de Sônia.

NESTOR – Eu não quero uma filha minha namorando com um homem que nunca poderá dar uma vida boa pra você.

SÔNIA – Eu não quero uma vida boa. Eu só quero ficar ao lado do homem que eu amo.

NESTOR – Sua mãe e eu já conversamos sobre o teu futuro.

SÔNIA – Como assim?

NESTOR – Se eu não encontrar um bom partido pra você, você será encaminhada para o convento de outra cidade.

SÔNIA – O senhor não pode fazer isso.

NESTOR – É claro que eu posso. Eu sou a autoridade desta casa. E a partir de hoje...

Nestor empurra Sônia em cima da cama e retira a chave da fechadura.

NESTOR – (CONT'D) Você está proibida de sair desse quarto.

SÔNIA – Não faz isso comigo, meu pai.

Nestor se retira e tranca a porta. Sônia vai até a porta.

SÔNIA – (gritando/batendo na porta) Não faz isso comigo!

Sônia encosta na porta e cai no choro...

CENA 14. CASA NESTOR. COZINHA. INTERIOR. DIA

Catarina preparando o almoço. Nestor entra, senta na cadeira e se serve com um copo de água.

CATARINA – Que gritaria toda é essa?

NESTOR – Tranquei a Sônia no quarto.

CATARINA – O que ela aprontou pra merecer esse castigo?

NESTOR – Se encontrou as escondidas com o Francisco. Ela sabe muito bem que eu odeio aquele garoto.

CATARINA – Será que não estamos sendo injustos demais?

NESTOR – Injustos por querer proteger a nossa filha? É claro que não! (toma a água) Ela tem que entender que eu estou acima de todas as decisões. (se levanta) Amanhã vamos nós dois na casa daquele fazendeiro.

CATARINA – Fazer o que lá?

NESTOR – Conversar sobre o casamento do filho dele com a nossa filha.

CATARINA – Só espero que você não se arrependa depois.

NESTOR – Eu nunca me arrependo das minhas decisões. Daqui a pouco estou de volta pro almoço.

Nestor se retira. Catarina fica pensativa.

CENA 15. QUARTO SÔNIA. INTERIOR. NOITE

(ao anoitecer...)

Sônia deitada na cama, chorosa e olhos avermelhados. Sônia ouve o barulho da chave na fechadura e se levanta. Catarina entra, segurando um prato de comida e fecha a porta.

CATARINA – Como você está, minha filha?

SÔNIA – Como a senhora acha que estou? Estou me sentindo uma prisioneira trancada neste quarto.

CATARINA – Você sabe como é o seu pai... Quando ele toma implicância com alguma coisa...

SÔNIA – (interrompendo) Ele não poderia ter feito isso comigo. Eu não estava fazendo nada de errado.

CATARINA – É melhor não contrariar a vontade do Nestor.

SÔNIA – Por que a senhora não me ajuda a fugir daqui?

CATARINA – Não adiantaria de nada. Seu pai iria revirar toda essa cidade atrás de você. Fora que... amanhã vamos atrás de um marido pra você.

SÔNIA – Eu não vou me casar com nenhum outro homem. O único homem que eu amo é o Francisco. Será que vocês não entendem que eu não vou suportar ficar longe do homem que eu amo? O que custa aceitar a minha relação com o Francisco? É só por que ele é pobre e não tem posses para sustentar vocês?

CATARINA – Não seja injusta comigo. Eu não sou contra o seu romance com o Francisco, e você sabe muito bem disso.

SÔNIA – Então por que não me ajuda?

CATARINA – Tenho medo que alguma coisa de ruim aconteça com você.

Sônia segura nas mãos de Catarina.

SÔNIA – Me ajude a fugir com o Francisco. Me liberta dessa vida que eu não quero viver com outro homem.

Catarina pensativa.

CENA 16. COZINHA. MESA. INTERIOR. NOITE

Manoel e Nestor sentados jantando. Catarina entrando na cozinha com a bandeja que carrega vazia... Nestor olha para bandeja.

NESTOR – Ela não quis comer?

CATARINA – Não. Disse que não vai comer nada até você aceitar o namoro dela com o Francisco.

NESTOR – Então morrerá de fome dentro daquele quarto. Não sou homem de voltar atrás da minha palavra.

MANOEL – Sônia adora chamar atenção. Por que não se casa de uma vez com o filho do fazendeiro? Lá na fazenda ela teria uma vida que deixaria todas as mulheres de São Paulo com inveja, mas não, prefere ficar com aquele sem teto do Francisco.

CATARINA – A sua irmã ama o Francisco.

MANOEL – Mas não devia amar.

NESTOR – Quero ver até quando ela vai aguentar ficar sem botar um alimento na boca.

Manoel ri. Catarina observando os dois.

CENA 17. QUARTO SÔNIA. INTERIOR. NOITE

Sônia guardando suas roupas dentro de uma mala.

SÔNIA – Espero que saia tudo com o planejado.

Sônia termina de guardar suas coisas e fecha a mala. Corta para: Sônia abrindo a porta do quarto lentamente... Ela põe a cabeça para fora e observa a movimentação. Respira fundo. Pega sua mala, se retira do quarto e fecha a porta. Corta para: Sônia na sala... Sônia pega a chave dentro da bíblia, põe na fechadura e a porta se abre. Sônia se retira e desce a escadaria apressada carregando a mala.

CENA 18. ORFANATO NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. QUARTO FRANCISCO. INTERIOR. NOITE

Francisco ajoelhado no chão orando sobre a cama. Sônia aparece atrás de Francisco. Francisco sente a presença de Sônia e olha para trás... Francisco surpreso. Sônia abre um sorriso.

FRANCISCO – Sônia? O que você está fazendo aqui?

SÔNIA – Eu quero ser só sua, meu amor.

Francisco se levanta.

FRANCISCO – Como assim?

Sônia beija Francisco... Francisco afasta Sônia.

FRANCISCO – O que está acontecendo com você?

SÔNIA – Eu quero me entregar pra você.

FRANCISCO – Mas assim tão de repente?

SÔNIA – Do que importa? O que importa...

Sônia desbotando a blusa de Francisco.

SÔNIA – (CONT'D) É que eu quero ser somente sua.

Francisco e Sônia se beijam apaixonadamente... Sônia deitando na cama aos beijos com Francisco. Francisco acaricia o corpo de Sônia. Francisco penetrando em Sônia. Sônia gemendo (em off) arranhando as costas de Francisco... A CAM embaça a cena...

CENA 19. CASA DE NESTOR. SALA. INTERIOR. DIA

(ao amanhecer...)

Nestor entra na sala e se depara com a chave na fechadura.

NESTOR – O que significa isso?

Nestor olha para o chão e encontra  o brinco de Sônia... Ele se abaixa e pega o brinco do chão, olha para o brinco com ódio.

NESTOR – Não pode ser o que estou pensando...

Corta para: Nestor entrando no quarto de Sônia e se deparando com o quarto vazio. Close na reação dele. Nestor grita:

NESTOR – Catarina!

Catarina entra no quarto.

CATARINA – (preocupada) O que aconteceu, homem?

NESTOR – Eu vou te fazer uma pergunta e quero que você me responda a verdade. Cadê a Sônia? Onde está a Sônia?

CATARINA – Ela estava no quarto quando eu sair.

Nestor segura no braço de Catarina.

NESTOR – Você sabe que eu odeio mentiras. Então, eu acho melhor você me dizer a verdade.

CATARINA – (assustada) Eu não sei de nada.

NESTOR – (bravo) Sua mentirosa! (tapa no rosto dela) Foi você que ajudou aquela inconsequente a fugir, não foi?

CATARINA – (chorando) Deixa a minha filha ser feliz com o homem que ela ama... Eu não quero que ela tenha que se casar forçada como eu me casei com você.

Nestor dá mais um tapa no rosto de Catarina.

NESTOR – (bravo) Eu quero respeito dentro desta casa, entendeu? Não tô acreditando que aquela infeliz conseguiu fugir sem nenhum dos meus homens verem. Isso só pode ter sido coisa sua... Maldita miserável! Eu deveria ter cortado a sua língua quando eu tive a oportunidade. Essa traição não vai ficar imune, tá me ouvindo? Você vai me pagar muito caro por ter me traído.

Nestor se retira do quarto. Catarina senta na cama e chora.

CENA 20. ORFANATO NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. QUARTO FRANCISCO. INTERIOR. DIA

Francisco e Sônia deitados na cama... Sônia com a cabeça sobre os braços de Francisco. Francisco acariciando sua cabeça.

FRANCISCO – Isso que você está querendo fazer é uma loucura. Todo mundo nos conhece nessa cidade, não seria nada fácil sair daqui sem nos reconhecerem.

SÔNIA – Tudo nessa vida tem um jeito, mas eu não posso me casar com um homem que eu não amo.

FRANCISCO – Então você realmente está disposta a fugir comigo?

SÔNIA – Eu faço qualquer coisa para ficar ao seu lado.

Francisco e Sônia se beijam apaixonadamente...

FRANCISCO – O que estamos esperando? Vamos embora dessa cidade ainda hoje.

SÔNIA – (sorridente) É sério?

FRANCISCO – Sim. Vamos ser felizes em outro lugar.

SÔNIA – Era tudo que eu precisava ouvir da sua boca.

Francisco e Sônia se beijam novamente...

NESTOR – (voz) Eu tenho certeza que a minha filha está trancada no quarto com aquele desgraçado do Francisco.

JOANA – (voz) O senhor não pode entrar numa casa sagrada com uma arma nas mãos.

Sônia reconhece a voz de seu pai e se assusta.

FRANCISCO – O que foi?

SÔNIA – Eu acho que o meu pai...

Nestor arromba a porta do quarto e se depara com Francisco e Sônia seminus na cama. Francisco e Sônia se assustam.

NESTOR – Não acredito no que estou vendo...

SÔNIA – (assustada) Pai?

Francisco abraça Sônia. Joana apreensiva. Nestor encarando os dois.

NESTOR – Que pouca vergonha é essa?

FRANCISCO – Tenha calma, senhor Nestor.

JOANA – Não faça nada que você possa se arrepender depois.

NESTOR – Fala pra mim que você não fez isso.

SÔNIA – Pai...

NESTOR – Me fala que tudo isso não passa de uma imaginação da minha cabeça.

SÔNIA – Tenta entender que nós dois se amamos.

FRANCISCO – Só estamos querendo ser felizes juntos.

NESTOR – (gritando) Cala a sua boca! Eu não quero ouvir nenhuma palavra saindo da sua boca! Você não passa de um anjo amaldiçoado que entrou na minha vida só pra tentar me derrotar... (olha para Sônia) E você vagabunda? Tá satisfeita por ter perdido a sua pureza com esse indigente?...

JOANA – Vamos conversar com mais calma...

NESTOR – (gritando) Eu não quero conversar com ninguém!

Nestor saca a arma da cintura e aponta para Francisco e Sônia.

JOANA – Não!

Joana entra na frente. Nestor empurra Joana pro chão.

FRANCISCO – Madrinha!

NESTOR – Quieto! Eu acho melhor você ficar quieto.

SÔNIA – (chorando) O que o senhor vai fazer?

NESTOR – O que você acha? (ri)

Nestor destrava a arma.

FRANCISCO – (gritando) O que você quer faça? Eu faço qualquer coisa pra você não atirar em nós dois.

Joana se levanta e se ajoelha diante de Nestor.

JOANA – Eu te imploro em nome de tudo que é mais sagrado. Não atira no Francisco e muito menos na Sônia. Eu te prometo que ele nunca mais vai chegar perto da sua filha. (chora) Não faz uma coisa que no fundo você não quer fazer. Não deixe o ódio tomar conta do seu coração. Quer mesmo ver a sua filha morta e coberta de sangue sobre essa cama? Você nunca iria se perdoar por ter atirado na própria filha. Eu te prometo que eles nunca mais vão chegar um perto do outro. Eu te dou a minha palavra, mas não faça essa crueldade com eles.

Nestor encarando Francisco e Sônia.

NESTOR – Vista a sua roupa agora.

SÔNIA – Me deixa ficar com ele..

JOANA – (nervosa) Escuta o teu pai e vai embora daqui.

Francisco e Sônia se abraçam.

FRANCISCO – Eu te amo.

SÔNIA – Eu também te amo.

Francisco e Sônia se beijam. Sônia rapidamente veste o seu vestido e calça seus sapatos. Nestor puxa ela pelo braço.

NESTOR – O Francisco tem até amanhã para sair da cidade. Senão ele será um homem morto.

Nestor e Sônia se retiram do quarto. Joana chora e abraça Francisco.

CENA 21. QUARTO SÔNIA. INTERIOR. DIA

Nestor entra puxando Sônia pelo braço e joga ela com força na cama. Sônia olhando chorosa para Nestor.

NESTOR – Eu acho bom você ouvir tudo que eu tenho pra te falar. Tô muito enojado da sua cara depois daquela cena constrangedora que eu fui obrigado a assistir. Eu nunca vou te perdoar por ter dado esse desgosto ao teu pai. Sabe o que você é pra mim agora? Uma perdida, uma mulher de rua, uma vagabunda de casa noturna pra ser mais específico. Não consigo mais enxergar aquela menina que tinha o ar de pureza... Tudo que eu consigo enxergar é uma vagabunda que nunca se deu ao respeito.

SÔNIA – Eu não me arrependo de ter me entregado pra ele.

Close na reação de Nestor (encarando)

SÔNIA – Eu me deitaria com ele quantas vezes fosse necessário.

Nestor dá um tapão no rosto de Sônia.

NESTOR – (gritando) Sua vagabunda! (tapa). Como você tem coragem de falar isso na minha cara? (desce a mão de novo).

Nestor pega Sônia pelo braço e arremessa ela no chão.

NESTOR – Você vai levar a surra que eu nunca te dei.

Nestor rasgando o vestido de Sônia. Sônia gritando desesperadamente. Nestor deixa ela completamente nua... Nestor tranca a porta e tira o cinto da calça.

NESTOR – Agora você vai aprender a me respeitar.

Nestor dá uma cintada nas pernas de Sônia. Sônia chorando em silêncio... Corta para: Catarina chorando atrás da porta.

CENA 22. ORFANATO NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. QUARTO FRANCISCO. INTERIOR. DIA

Francisco vestindo sua roupa. Joana entrando no quarto com um copo de água na mão.

JOANA – Beba um pouco dessa água.

FRANCISCO – Eu não quero água nenhuma.

Joana põe o copo em cima da mesa de cabeceira.

JOANA – Você precisa sair dessa cidade o mais rápido possível.

FRANCISCO – E deixar a Sônia nas mãos do pai dela?

JOANA – É a única saída de você continuar vivo.

FRANCISCO – Eu não posso ir embora sem Sônia.

JOANA – Mas você vai embora sem ela. Eu não quero que você morra com uma vida inteira pela frente por causa de mulher.

FRANCISCO – Pra onde que eu vou, madrinha? Eu não conheço ninguém fora dessa cidade.

JOANA – Você vai atrás da sua mãe.

FRANCISCO – Atrás da minha mãe? Que história é essa?

JOANA – Já está na hora de você saber de toda a verdade.

Joana tira um medalhão e uma carta do bolso.

JOANA – Isso aqui foi deixado junto com você quando te encontrei na roda dos expostos. Eu acho que nesta carta tem a explicação do motivo que deixaram você aqui.

Joana entrega a carta e o medalhão para Francisco.

FRANCISCO – Isso quer dizer que... a minha mãe pode está viva?

Francisco emocionado olhando para a carta e o medalhão.

FIM DO CAPÍTULO...