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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

ANOS INCRÍVEIS - CAPÍTULO 02

 





ANOS INCRÍVEIS                   CAPÍTULO 02


O RETORNO INESPERADO


CENA 001. RUA ESCRITOR MACHADO DE ASSIS. ENGENHO DO FUNDÃO. EXTERIOR. TARDE

Helena fica surpresa com o retorno de Verônica e a perua estranha:


VERÔNICA

O que foi amiga? Surpresa com o meu retorno?


HELENA

Eu jurei que fosse morar naquele palacete em Petrópolis. Aliás, o porquê do seu retorno?


VERÔNICA

Eu soube por fontes seguras que a sonsa da filha da Angina vai se casar daqui a uma semana.


HELENA

Não acredito que veio para infernizar esse povo.


VERÔNICA

Infernizar a família Fernandez Cardoso é o meu esporte favorito.


HELENA

O seu esporte favorito era amar o teu próximo como a ti mesmo.


VERÔNICA

Já amo demais o próximo ao ponto de acabar o estoque.


HELENA

Amiga tome jeito!


VERÔNICA

Pode deixar, não farei nenhum mal.

Helena aconselha Verônica e a perua desdenha.



CENA 002. MANSÃO DA FAMÍLIA FERNANDEZ CARDOSO. SALA. INTERIOR. TARDE

Ana Rosa deixa a mansão e entra no táxi. Chegando, Eduardo entra na residência minutos depois e Angina estranha:


ANGINA

Chegou cedo amor, não deu clientela no Paradise?


EDUARDO

Longe disso amor, eu estou apenas pensativo.


ANGINA

Está pensando no que?


EDUARDO

Hoje eu vi o Afonso e a Lucrécia num tom tão íntimos.


ANGINA

Ah para Eduardo! O Afonso, Lucrécia e Emanuela são amigos de longa data. Formaram no colegial. Você vê maldade em tudo.


EDUARDO

Não é maldade, eu sinto que tem algo muito estranho entre os dois.


ANGINA

Quem sou eu para discordar de você né? Bom, terei que ir ao salão providenciar umas coisas. Beijos!


EDUARDO

Beijos amor e cuidado com as mazelas do Rio hein?


Angina beija Eduardo e o empresário fala sozinho:


EDUARDO

Tem caroço nesse angu, ah se tem!

Eduardo sobe as escadas e caminha para o quarto de Emanuela.




CENA 003. MANSÃO DA FAMÍLIA FERNANDEZ CARDOSO. QUARTO DE EMANUELA. INTERIOR. TARDE

Ao ouvir batidas na porta, Emanuela atende Eduardo e ele entra no quarto:


EDUARDO

Parece que cheguei em boa hora [...].


EMANUELA

Eu estava aqui pensativa, inspirada...


EDUARDO

E triste né? Seu semblante mostra sinais de tristeza e aflição com esse casamento.


EMANUELA

Só minha mãe está entusiasmada com esse casamento.


EDUARDO

Angina sempre foi de agir à flor da pele, não me surpreende.


EMANUELA

Falando nisso, como foi o início do relaciomento de vocês?


EDUARDO

Foi um início lindo sabe? Troca de olhares, beijos apaixonados, uma conexão forte que o tempo firmou.


EMANUELA

É isso que não consigo sentir no Afonso; Não como explicar.


EDUARDO

Ele está distante de você né? Engraçado que sempre notei isso.


EMANUELA

Como sabe disso? Sensitivo é?


EDUARDO

O faro de um pai para sua cria, nunca engana. Quando você for mãe, vai entender isso.

Emanuela abraça Eduardo e o empresário se emociona.

 


CENA 004. SALÃO DE FESTAS AURORA. INTERIOR. MANHÃ

Saindo do táxi, Angina entra no Salão de Festas Aurora e se depara com Edina:


ANGINA

O dia das bruxas chegou tão cedo esse ano hein?


EDINA

Respeita-me mocreia!


ANGINA

A senhora que tem que se dar ao respeito, parvo!


EDINA

Vem cá, você não tem vergonha não? Uma mulher que deveria se portar como uma dama age feita como uma cafetina.


ANGINA

A senhora está me ofendendo.


EDINA

Ah é? Estou lhe ofendendo? Poderia eu ter feito muito pior. Como pode forçar a minha neta se casar com o Afonso?


ANGINA

Ela está na idade de se casar, os dois namoram há cinco anos, eram para estar casados.


EDINA

Como você é chata e limitada Angina, deixa a garota ser feliz!


Angina se aproxima de Edina e rebate:


ANGINA

Da minha filha, cuido eu. Não quero mais ver a senhora próxima da Emanuela.


EDINA

Não vou deixar minha neta desamparada por sua causa. E nem ouse me ameaçar, acabo com sua raça num piscar de olhos.

Edina e Angina se encaram e a dona da Love Song vai embora. Sozinha, Angina chora de raiva.




CENA 005. CASARÃO DOS SILVA CASTRO. SALA DE ESTAR. INTERIOR. MANHÃ

Marlone entra no casarão a pedido do Tetinha e espera pelo patrão:


MARLONE

Finalmente hein patrão? Vim te trazer uma informação [...].


TETINHA

Lá vem fofoca, diga, o que você quer?


MARLONE

A dona encrenca vulgo Verônica está aqui no Rio.


TETINHA

Olha como fala da Verônica hein? O que ela faz aqui no Rio?


MARLONE

Ué mas o senhor disse que não queria saber de fofocas?


TETINHA

Isso não é fofoca, é informação. Vindo da Verônica, nada mais me surpreende.


MARLONE

Soube que ela voltou para comparecer o casamento da Emanuela.


TETINHA

Já era esperado, ela com sua vingancinha patética contra a Angina. Não sei o que ela ganha com isso.


MARLONE

Bom passei toda a informação, agora preciso trabalhar.


TETINHA

Vai lá e quero o dinheiro lá da banca viu?


MARLONE

Pode deixar patrão!

Marlone deixa o casarão e Tetinha fica pensativo.



CENA 006. APARTAMENTO DA FAMÍLIA ALENCAR SILVEIRA. SALA. INTERIOR. TARDE

Horas depois, Helena e Verônica chegam da Feira de São Cristóvão e a cabelereira a aconchega em seu apartamento:


HELENA

Sinta-se a vontade, não tenho muitos luxos, mas é aconchegante.


VERÔNICA

Não ligo muito para os luxos, já que o apartamento de Petrópolis era bem menor que aqui.


HELENA

Falando nisso, qual é o seu propósito contra a família da Angina?


VERÔNICA

Eu quero me vingar. Ela seduziu o Eduardo e nunca vou esquecer isso.


HELENA

Oh minha velha amiga, o Eduardo sempre foi um rapaz mulherengo e não sei como por um milagre, ele se casou com a Angina.


VERÔNICA

Eu tinha tantas esperanças que algum dia, ele iria mudar.


HELENA

E mudou! Casou-se com a Angina e formou uma linda família.


VERÔNICA

Essa felicidade vai durar muito pouco, escreve o que estou dizendo.


HELENA

Verônica esqueça isso e vá viver sua vida com o Tetinha.


VERÔNICA

O Tetinha é meu aliado, o único que entende os meus propósitos.


HELENA

E porque não se casam logo?


VERÔNICA

Gosto dele, mas como parceiro de planos. Como marido, meu coração sempre será do Eduardo.

Helena fica sem reação com a insistência de Verônica e tenta aconselhar a melhor amiga.



CENA 007. PRAIA DE COPACABANA. CALÇADÃO. EXTERIOR. TARDE

Rafael caminha pensativo após a bronca de Marcone e Érica se aproxima do melhor amigo.


ÉRICA

Pelo visto o Mezica conseguiu fazer a cabeça do Marcone.


RAFAEL

Esse velho sempre consegue o que quer, incrível.


ÉRICA

Olha, dessa vez dou razão ao Dom. Até eu odiaria aquela brincadeira que tu fez.


RAFAEL

Estou me sentido ditadura militar, à época do AI-5. Tinha limites para absolutamente tudo.


ÉRICA

Ah Rafael quando a brincadeira dói no bolso, os engravatados se manifestam.


RAFAEL

Eu até estava pensando em renovar o meu contrato com a Rádio, mas depois dessa [...].


Érica fica cara a cara com Rafael e rebate:


ÉRICA

Rafael você precisa amadurecer. Não é porque o nosso patrão te deu uma bronca que deve jogar tudo para o alto.


RAFAEL

Eu estou me sentindo censurado, apenas isso.


ÉRICA

Pôr limites não é censura, é um ato de bom senso. Você é uma das maiores audiência da Rádio Ondas Carioca e querido pelo povo, vai mesmo abandonar a carreira por uma bronca?

RAFAEL

Em casa eu vou pensar sobre isso.

Érica continua aconselhando Rafael a ficar na Rádio.



CENA 008. LOJAS MEZICA. ESCRITÓRIO. INTERIOR. TARDE

Osara cumprimenta os funcionários e caminha ao escritório. Chegando ao local, a dama surpreende Dom Mezica:


DOM MEZICA

Mama? O que faz aqui? Nunca foi de vir a loja.


OSARA

Eu soube que você retirou o patrocínio da Rádio.


DOM MEZICA

Veio por isso? Tenho o direito de retirar o patrocínio de lá.


OSARA

Não acredito que você vai dar ouvidos para duas crianças, jura?


DOM MEZICA

Crianças com a exímia responsabilidade que deveriam ter com o público.


OSARA

As Lojas Mezica têm quase oitenta anos de tradição e não vai ser uma situação jocosa que perderemos clientes e credenciados.


A secretária abre a porta e anuncia ao Mezica, a chegada do Afonso:


SECRETÁRIA

Boa tarde Senhor Shalon Mezica, um tal de Afonso Parreiras tem procura.


DOM MEZICA

Pede para ele vir aqui.


A secretária deixa o local e Osara diz:


OSARA

Escute a sua velha mãe aqui, sempre estive certa. Tenha uma boa tarde, meu filho.


Osara sai do escritório. Alguns segundos depois, Afonso entra e Mezica pergunta:


DOM MEZICA

O que o senhor quer?


AFONSO

Cumpri com aquele nosso combinado em troca das mobílias para minha casa com a Emanuela.


Afonso discute proposta com Dom Mezica e um dos funcionários escuta atrás da porta.



CENA 009. MANSÃO DA FAMÍLIA FERNANDEZ CARDOSO. SALA. INTERIOR. TARDE


Angina chega à mansão, estranha o silêncio e chama por Inácio:


ANGINA

Inácio, cadê você?


Inácio sai da cozinha e responde:


INÁCIO

Estou aqui senhora, o que deseja?


ANGINA

Cadê o povo dessa casa? A Emanuela? O Eduardo?


INÁCIO

A senhorita Emanuela foi passear na praia de Ipanema e o Eduardo voltou para o Paradise in Rio.


ANGINA

Quando mais preciso deles, eles saem. Esse casamento da Emanuela está parecendo um enterro. Ninguém liga a não ser eu.


INÁCIO

Lamentável essa situação. Ah chegou uma carta da Love Song. Aqui está.


Inácio entrega a carta para Angina. Ao abrir a carta, a ricaça se espanta:


ANGINA

Despesa? A Love Song não tem tido despesas altíssimas.


INÁCIO

Então patroa, eu sou um mero mordômo, não entendo nada de negócios. Voltarei ao trabalho, com licença!


Inácio retorna para a cozinha e Angina fala sozinha:


ANGINA

Isso tem dedo daquela múmia plastificada da Edina, tenho certeza!

Angina guarda o documento na bolsa e vai até o escritório.

 


CENA 010. SALÃO DE BELEZA ESTRELA-GUIA. INTERIOR. TARDE

Helena desce as escadas e chega ao salão de belezas com o material de trabalho. Mary Popiri fofoca sobre o casamento de Emanuela e Afonso com Violeta:


MARY POPIRI

Menina está sabendo do casamento da Emanuela com o Afonso? Dizem más línguas que promete ser do babado.


VIOLETA

Você acredita que dê certo? A Emanuela é tão extrovertida e ele, tão seco.


MARY POPIRI

Embora os opostos se atraiam, os orixás garantiram que esse casamento pode dar errado.


Helena se incomoda e responde a cartomante:


HELENA

Está repreendido em nome de Jesus! Esse casamento vai dar certo, ainda mais quando o amor fala mais alto.


MARY POPIRI

Nesse caso, o amor do seu filho adotivo é pelo dinheiro daquela família.


HELENA

Desculpe-me a grosseria, mas não admito que fale assim do meu filho.


VIOLETA

Filho bastardo né querida? Você sabe disso e o povo comenta.


HELENA

Não devo satisfação para ninguém, ainda mais para alguns fofoqueiros do Engenho do Fundão.


MARY POPIRI

Calma amiga! Fique calma, é melhor terminar o assunto por aqui.

Com os olhos lacrimejando, Helena deixa o salão, vai até o banheiro e cai no choro.

 


CENA 011. LOJAS MEZICA. ESCRITÓRIO. INTERIOR. TARDE

Afonso assina contrato de parceria comercial com Mezica e o empresário agradece:


DOM MEZICA

Foi muito bom fechar negócio contigo rapaz.


AFONSO

Pode contar sempre comigo, eu estarei a sua disposição.


DOM MEZICA

Perfeito e espero que essa parceria seja frutífera.


Afonso e Dom Mezica se cumprimentam e o rapaz vai embora. Osara retorna ao escritório e diz:


OSARA

Não consigo gostar deste rapaz, ele exala encrenca.


DOM MEZICA

Que isso mama, a senhora sempre foi receptiva.


OSARA

Mas com ele não consigo ser receptiva. É frio, calculista com um olhar malicioso, não vejo pureza nele.


DOM MEZICA

Mãe não existe homem puro e se existir, pode ter certeza que é frutinha.


OSARA

Não confio nele e que negócio tu fez com ele? Pelo visto a conversa foi bem longa.


DOM MEZICA

Eu consegui a posse daquele depósito no Engenho do Fundão.


OSARA

Ficou louco? Aquele lugar é dominado pelo Tetinha, o maior contraventor do estado do Rio de Janeiro.


DOM MEZICA

Calma mãe! Eu sei que estou fazendo.

Osara fica nervosa com a parceria do Mezica com Afonso.

 


CENA 012. CASA DA FAMÍLIA RAMOS MONTEIRO. SALA. INTERIOR. TARDE

Descendo as escadas, Lucrécia se arruma para caminhar na praia e o telefone toca:


LUCRÉCIA [TELEFONE]

Alô? Quem está falando?


AFONSO [ORELHÃO]

Sou eu, o Afonso. Tenho uma parada para te contar.


LUCRÉCIA [TELEFONE]

Espero que seja algo bom, diga!


AFONSO [ORELHÃO]

Consegui fechar um acordo milionário com o Dom Mezica. Eu ofereci aquele depósito daí do Engenho do Fundão.


LUCRÉCIA [TELEFONE]

Ficou maluco? Se a polícia e o Tetinha te pegam, tu é um homem morto.


AFONSO [ORELHÃO]

Com o Tetinha eu me resolvo! Aquele pilantra lá vai amar saber que tem muito dinheiro envolvido e vou tirar uma bocada pra gente.


LUCRÉCIA [TELEFONE]

Assim espero! Agora preciso desligar, antes que alguém apareça!


AFONSO [ORELHÃO]

Beleza, depois te ligo. Boa tarde!


Lucrécia desliga o telefone e sai de casa. Angélica se aproxima do telefone e abre a caderneta e diz:


ANGÉLICA

Então é isso, Lucrécia tem um caso com o Afonso. Agora é hora de brincar.

Angélica arranca a página da caderneta e guarda o número de Afonso anotado no pedaço de papel no bolso da bermuda.




CENA 013. PRAIA DO IPANEMA. CALÇADÃO. EXTERIOR. TARDE

Emanuela caminha sozinha e Nicole se aproxima da melhor amiga:


NICOLE

Acorda menina ou está pensando na morte da bezerra?


EMANUELA

Que susto menina! Eu estava aqui pensativa.


NICOLE

Pensando nesse casamento arranjado que sua mãe força a maior barra?


EMANUELA

Nem me fale, falta alguns dias para esse casamento acontecer.


NICOLE

Você já mandou a real para o Afonso? Pois ele nunca foi afim de você e isso é nítido.


EMANUELA

Eu sempre percebi a frieza dele comigo. Para uma boa companhia, ele é ótimo, o mesmo não posso dizer dele sendo meu noivo.


NICOLE

Você precisa abrir o seu coração e colocar esse assunto em pratos limpos.


EMANUELA

Até tentei, mas medo de feri-lo com minhas palavras é grande.


NICOLE

Manu e se ele te ferir com palavras maledicentes, você vai fazer o que? Vai ficar calada e aceitar tudo numa boa? Pensei um pouco!


Emanuela abaixa a cabeça e Nicole aconselha:


NICOLE

Antes tarde do que nunca, você é uma mulher alegre e divertida que merece coisa melhor. Depois que se noivou com ele, perdeu todo o brilho que tinha. Pense muito bem, antes que se arrependa.

Emanuela chora e Nicole consola.



CENA 014. BANCA DE JORNAL DO ENGENHO DO FUNDÃO. BALCÃO. INTERIOR. TARDE


Romário se espanta ao saber da negociação do Afonso com Mezica através de fofoca e Romeu escuta:


ROMÁRIO

Esse Afonso é um pilantra, como pode fazer uma negociata arriscada.


ROMEO

Que negociata ele fez? O que esse golpista aprontou?


ROMÁRIO

Ele ofereceu o depósito daqui do Engenho do Fundão para o Mezica fazer de loja.


ROMEU


Mas esse depósito não é de domínio público?


ROMÁRIO

Infelizmente o Tetinha conseguiu uma licitação, mas não autoriza ocupação lá. Agora o por quê? Não sabemos.


ROMEU

Que coisa mais estranha, mas a troco de que o Afonso fez isso?


ROMÁRIO

Dinheiro, muito dinheiro. Espero que isso não caia nos ouvidos do Tetinha.


Tetinha escuta o nome dele sendo mencionado e pergunta:


TETINHA

Não querem que eu saiba o que? Posso saber?

Romeu olha para Romário que fica sem reação; Tetinha os encara.



CONGELAMENTO: