NOSSAS VIDAS – CAPÍTULO 01
novela criada e escrita por
MARCOS CASTELLI
Participam deste capítulo:
Maria Fernanda Cândido como Luciana
Dan Stulbach como Igor
Débora Falabella como Fabiana
Ricardo Tozzi como Alberto
Thiago Fragoso como Felipe
Regiane Alves como Aline
Marcos Palmeira como Jorge Henrique
Vivianne Pasmanter como Elvira
Danilo Mesquita como Danilo
Giovanna Lancellotti como Paloma
Guilherme Dellorto como Adrian
Louise Cardoso como Fátima
Silva Pfeiffer como Hilda
Leopoldo Pacheco como Fábio
Fábio Beltrão como Ryan
Bruno Guedes como Emerson
Rafaela Sampaio como Monique
José Condessa como Júlio
Brenda Sabryna como Rosária
Vanderson Luz como Sandro
CENA 01. RIO DE JANEIRO, 2021. VISTA GERAL. EXTERIOR. DIA
Planos da Cidade, terça de muito sol, por volta das nove da manhã. A cidade maravilhosa de sempre. Pão de Açúcar, Cristo Redentor, praias cheias... A CAM sobrevoa pelos os edifícios da cidade e corta para:
CENA 02. CARRO DE DANILO. INTERIOR. DIA
Danilo dirigindo. Júlio olhando a paisagem com admiração.
DANILO – Nem tô acreditando que você vai passar o meu aniversário aqui comigo. Confesso que eu quase infartei quando você disse que estava no aeroporto.
JÚLIO – (ri, levemente) Eu queria te fazer uma surpresinha, já que não seria possível você voltar para Portugal.
DANILO – Você sabe que o meu plano era passar o meu aniversário com você, mas... minha família fez questão que eu passasse esse ano com eles.
JÚLIO – Errados eles não estão. Você já passa o ano todo ocupado com o teatro, estudando horrores pra conseguir emplacar um filme lá fora... Nada mais justo você passar pelo menos esse ano com eles.
DANILO – Por que você é tão perfeito?
JÚLIO – Não sou tão "perfeito". Só estou tentando compreender os seus pais. E falar neles... Eles já sabem do nosso relacionamento?
DANILO – Ainda não... Não tive coragem de conversar com eles sobre esse assunto.
JÚLIO – Já passou da hora delas saberem de nós dois.
DANILO – E eles vão saber. Deixa passar toda essa agitação da minha festa, que eu falo com eles sobre o meu amor por você.
Júlio acaricia o rosto de Danilo.
JÚLIO – Eu sou tão apaixonado por você.
Danilo olha sorrindo para Júlio.
DANILO – Eu amo você.
Júlio sorri e beija a mão de Danilo.
CENA 03. QUARTO DANILO. INTERIOR. DIA
Fátima guardando as roupas de Danilo no closet. Adrian entrando com toneladas de travesseiros.
ADRIAN – Onde é que eu deixo isso aqui?
FÁTIMA – Põe em cima da cama.
Adrian põe os travesseiros na cama.
ADRIAN – Nunca carreguei tanto travesseiros como hoje. Gente rica gosta de complicar as coisas, não é mesmo?
FÁTIMA – Isso é porque você ainda não entrou no quarto dos meus patrões. É cheio desses travesseiros sobre a cama.
ADRIAN – Vou passar bem longe de lá.
Fátima ri. Adrian olha para o retrato de Danilo.
ADRIAN – É esse rapaz que é o Danilo?
Fátima se aproxima.
FÁTIMA – É ele mesmo. Esse menino é um amor de pessoa, nem parece ser irmão da Paloma.
Nesse momento Paloma grita o nome de Fátima de seu quarto.
FÁTIMA – Vai começar... Termina de arrumar o quarto pra mim. Daqui a pouco eu volto pra gente tomar um café.
Fátima se retira rapidamente. Adrian ainda olhando fixamente para o retrato de Danilo. Se aproxima, pega o retrato nas mãos e fica admirando.
ADRIAN – É melhor não mexer em nada. Não quero ter problemas com os patrões da minha mãe.
Adrian põe o retrato de volta na cômoda.
CENA 04. QUARTO PALOMA. INTERIOR. DIA
Fátima entra apressada. Paloma saindo do banheiro.
PALOMA – Por que demorou tanto, criatura?
FÁTIMA – Eu estava arrumando o quarto do seu irmão.
PALOMA – Então ele vem mesmo passar o aniversário dele aqui?
FÁTIMA – Foi o que seus pais falaram.
PALOMA – Deus me livre! Isso aqui vai virar uma boate gay.
Paloma senta na cama.
PALOMA – (CONT'D) De tanto viado que vai ter nessa festa.
Fátima constrangida.
PALOMA – (CONT'D) Já estou até vendo as luzes coloridas, músicas da Pabllo Vittar... bandeira arco-íris como tema do bolo. (ri debochando) É cada uma que me aparecer. Só falta ele assumir que gosta de homens. Isso mesmo ele não assume.
FÁTIMA – A senhora vai precisar dos meus serviços?
PALOMA – Eu quero que você faça um prato muito especial para o jantar de hoje à noite. Meu namorado vem dormir comigo, e eu quero que ele se sinta em casa.
FÁTIMA – Seus pais sabem disso?
PALOMA – (ignorando/grossa) Só faça o que estou mandando. Não se esqueça que você está aqui para obedecer, e não pra ficar palpitando no que eu faço ou deixo de fazer.
FÁTIMA – Como a senhora quiser. E qual é o prato que a senhora quer que eu faça?
PALOMA – Estrogonofe de camarão.
FÁTIMA – Pode ser de carne ou frango? É que não temos camarão.
PALOMA – Foi de carne que eu mandei você fazer?
FÁTIMA – Não.
PALOMA – Foi de frango?
FÁTIMA – Não.
PALOMA – Não preciso dizer mais nada, não é mesmo?
FÁTIMA – Não senhora. Com licença.
Fátima se retira com a cabeça baixa.
Paloma encosta as costas no travesseiro e mexe no celular.
CENA 05. BANHEIRO DE BETO E FABIANA. INTERIOR. DIA
Beto entrando no banheiro, exausto. Ele apoia seus braços na pia e fica se encarando no espelho. Respira fundo. Depois ele entra no box e abre o chuveiro. A CAM foca no espelho: mostra o Beto tirando a cueca e sua bunda fica exposta. Fabiana entra.
FABIANA – Será que podemos conversar?
BETO – Não temos nada para conversar. A nossa conversa de ontem já foi o suficiente pra entender que você prefere mais o seu trabalho que o seu próprio marido. Já estou ficando cansado dessa vida que levamos.
FABIANA – Posso falar ou vai ficar difícil?
BETO – Pode falar, doutora Fabiana.
FABIANA – Você tem que entender que esse é o meu trabalho, que não posso abandonar tudo por causa de seus caprichos.
BETO – Meus caprichos? (ri) E desde quando querer sua mulher ao seu lado é capricho? Fabiana... Já faz dois meses que não temos uma relação sexual. Que não sentamos para conversar sobre o nosso futuro, sobre nossas férias no fim de ano. Sabe o que estamos virando? Dois estranhos morando numa mesma casa.
FABIANA – Então esse é o seu problema?
Fabiana tira suas roupas.
BETO – O que você tá fazendo?
FABIANA – Você não falou que estamos dois meses sem transar? Então vamos transar.
Fabiana fica nua. Beto se irrita e segura os braços de Fabiana.
BETO – (gritando) Para com isso! Olha só o que você está fazendo, Fabiana. Eu não quero só transar com você. Eu quero o seu companheirismo, eu quero que você esteja ao meu lado.
FABIANA – Beto...
Beto solta os braços de Fabiana e se retira do banheiro. Fabiana encosta na parede, desce até sentar no chão e cai no choro.
CENA 06. ESCOLA SILVINO MONTALEÃO. CANTINA. INTERIOR. DIA
Hilda varrendo o chão. Fábio entra, olhando ao redor.
FÁBIO – Cadê o Ryan?
HILDA – Foi conversar com o Jorge Henrique.
FÁBIO – Sobre o que?
HILDA – Como é que eu vou saber? É assunto deles, Fábio. Para de ficar perseguindo o menino.
FÁBIO – Eu não gosto desse menino andando por essa escola sozinho. Você sabe o que aconteceu dá última vez.
HILDA – Todo dia agora você vai ficar tocando nesse assunto? Que coisa chata, Fábio. O menino não é mais aquela criança que não sabe o que é certo ou errado.
FÁBIO – A reputação da minha família que me preocupa. Esse menino acabou com a minha reputação e de todo mundo.
Hilda para de passar o pano no chão e põe as mãos na cintura.
HILDA – Que reputação, Fábio? O menino trabalha toda noite pra poder comprar seus remédios caros, porque não temos dinheiro pra ficar comprando vários remédios. O menino sempre faz de tudo pra tentar te agradar, e você vem me falar que ele acabou a sua reputação? Ah, Fábio, vai procurar o que fazer.
FÁBIO – Depois não diga que falei. Esse menino ainda vai voltar a nos decepcionar de novo.
Ryan entra na cantina. Fábio olha com desprezo para seu filho e sai da cantina. Hilda olha sem jeito para Ryan.
RYAN – Deixa ele. Um dia ele vai se arrepender de tudo.
HILDA – Ryan...
Hilda abraça Ryan.
CENA 07. CARRO IGOR. INTERIOR. DIA
Igor está dirigindo indo para casa. Luciana está debruçada pensativa na janela. Igor olha para ela.
IGOR – Você está bem?
LUCIANA – Pensando na vida. Como o tempo passa rápido, né? Ontem mesmo a gente estava adotando o Danilo, e amanhã ele faz 26 anos. Não dá pra acreditar nisso.
IGOR – O mais triste de tudo é que ele não mora mais com a gente. Você sabe que ele quer morar em Portugal, né? Ele está doidinho pra comprar um apartamento e fazer a vida dele fora do Brasil.
LUCIANA – Ele já falou comigo sobre isso.
IGOR – E você concorda dele ir morar fora do país?
LUCIANA – E o que podemos fazer? Ele já é um homem adulto, tem seu próprio dinheiro e pode muito bem ser feliz.
IGOR – Não sei... Tenho medo de acontecer alguma coisa com ele... Não confio muito dele ir morar sozinho, e ainda mais no outro lado do mundo. Se ao menos fosse acompanhado de uma namoradinha ou sei lá do que ele gosta, mas sozinho... Eu não estou cem por cento seguro.
LUCIANA – Quando chegarmos em casa falamos com ele sobre isso, tá bom?
IGOR – Tudo bem.
Luciana segura na mão de Igor. Os dois se olham.
CENA 08. QUARTO PALOMA. INTERIOR. NOITE
(ao anoitecer...)
Paloma retocando o batom. (batidas na porta).
PALOMA – Pode entrar.
Adrian entra.
ADRIAN – O seu namorado acabou de chegar.
PALOMA – Diga que já estou descendo. E avisa para sua mãezinha, que eu não quero você e nem ela andando pela casa. Eu quero ficar sozinha com o meu namorado.
ADRIAN – Sim senhora.
Adrian se retira.
CENA 09. COZINHA. INTERIOR. NOITE
FÁTIMA – Como assim ela mandou nos recolher? Ainda são oito horas da noite.
ADRIAN – É melhor fazer o que ela mandou. Vamos deixar tudo arrumado e irmos para o nosso quarto.
FÁTIMA – Que falta está fazendo os meus patrões. Só eles pra controlar essa menina.
Fátima inconformada.
CENA 10. SALA DE IGOR E LUCIANA. INTERIOR. NOITE
Sandro sentado no sofá. De repente, ele olha para a escada e vê Paloma. Paloma vestida com uma linda lingerie vermelha sexy. Sandro levanta, boquiaberto. Paloma desce a escada, se aproxima de Sandro.
PALOMA – Gostou da surpresinha?
SANDRO – Eu amei! Você fica muito gostosa vestida assim.
PALOMA – Que tal aproveitarmos que estamos só, e fazer aquele amor bem gostoso? Com direito a gemidas bem gostosas no seu ouvido e uma gozada maravilhosa.
Sandro morde os lábios ouvindo Paloma. Paloma joga Sandro no sofá. Ela tira a blusa dele, a calça que ele estava vestindo e deixa ele só de cueca. Paloma ri e se afasta, dançando para Sandro, deixando ele cada vez mais excitado. Ele põe seu pênis para fora da cueca e começa a se masturbar assistindo Paloma dançar. Paloma tira sua calcinha e joga para Sandro. Sandro levanta do sofá e tira o sutiã dela. Paloma fica nua. Ela agarra Sandro e os dois caem no sofá se beijando. Igor abre a porta da mansão e se depara com Paloma e Sandro se beijando pelados no sofá. Luciana entra em seguida na mansão e fica indignada com o que ver. Sandro beijando o pescoço da Paloma, ele abre o olho e vê os pais da Paloma. Ele se assusta e joga Paloma no chão.
PALOMA – Que isso, San... (olha para a porta)
IGOR (bravo) – Mas que pouca vergonha é essa aqui dentro da minha casa, Paloma?
Close no rosto de Paloma sorrindo nervosa para seus pais.
PALOMA – O que vocês estão fazendo aqui? Não era pra vocês voltarem amanhã de manhã?
LUCIANA – Estou indignada com você, Paloma. Não respeita nem a própria casa?
IGOR – Eu sabia que não era uma boa ideia deixar você sozinha nessa mansão. Uma garota que não tem limites, uma irresponsável.
Paloma veste sua calcinha e tapa seus seios com o braço. Sandro esconde suas coisas com o travesseiro.
PALOMA – O que foi, hein? Posso nem transar mais nesta casa?
IGOR – Você pode transar onde e com quem você quiser, mas não na sala da minha casa. Que falta de respeito é esse menina?
PALOMA – Era por isso que eu queria ter a minha própria casa. Porque morando sozinha, eu teria a minha privacidade, e não ficaria aqui ouvindo gracinhas de vocês dois. Dois tapados que só passam a mão na cabeça do filho viado que vocês.
IGOR – Não ofende o seu irmão.
PALOMA – Esqueci que não pode falar do cristalzinho sensível.
Paloma pega seu sutiã que está no chão e sobe para revoltada para o quarto.
LUCIANA – Eu vou conversar com ela.
Luciana sobe a escada. Igor olha para Sandro.
IGOR – Vai ficar aí parado? Bota logo essa roupa e some da minha frente.
Sandro se apressa e começa a pôr sua roupa.
CENA 11. QUARTO PALOMA. INTERIOR. NOITE
Luciana entra no quarto. Paloma saindo do banheiro.
PALOMA – O que você quer?
LUCIANA – Que cena ridícula foi aquela que você fez? Não foi dessa maneira que seu pai e eu te educamos.
PALOMA – Claro que não foi. Esqueceu que vocês passaram todo o tempo se dedicando ao esquisito do meu irmão?
LUCIANA – Você está com ciúmes do Danilo?
PALOMA – Vocês nunca gostaram de mim, nunca me escutam, nunca deixa eu chegar perto de vocês e não posso fazer nada que vocês criticam. O que vocês querem, me matar? É isso? Porque se for, já está conseguindo.
LUCIANA – O que você queria que eu fizesse? Você estava transando com o seu namorado no sofá da sala, e ainda quer que eu aplaudo? Você foi extremamente ridícula que não se dar ao respeito a si mesma. Você tem que respeitar a casa dos seus pais.
PALOMA – (gritando) Eu quero morrer! É tudo que eu quero nesse momento.
LUCIANA – Não seja dramática.
Luciana vira as costas e se retira do quarto. Paloma se revolta e joga o abajur no chão.
CENA 12. CLÍNICA DE FABIANA. SALA. INTERIOR. NOITE
Fabiana aplicando botox em uma mulher (aparenta ter uns 40 anos, branca, olhos claros, loira e cabelos longos).
MULHER – Essa semana eu tenho um jantar muito especial com o meu marido. Ele é empresário, quase não fica em casa, mas sempre faz de tudo para me agradar. É jóias, roupas caras, bolsas de grife, sapatos um melhores que o outro...
Fabiana ri levemente.
MULHER – Eu amo o meu marido. Faço de tudo pra fazer ele feliz. Eu acho que nos mulheres deveríamos valorizar mais os nosso maridos, sabia? Claro, se ele nos valorizar também. Hoje em dia tem sido muito difícil encontrar homens que prestem. Um homem que saiba valorizar o seu esforço, que faça elogios ao seu cabelo, que se declara todos os dias pra você. Enfim, eu valorizo o meu casamento.
Fabiana termina a aplicação.
FABIANA – Prontinho.
MULHER – Quando que essas rugas começam a sumir?
FABIANA – Aproximadamente entre dois e três dias. Mas por segurança, você retorna na semana que vem, só pra fazer algumas avaliações.
MULHER – Muito obrigada, doutora! A senhora me salvou e ainda salvou o meu casamento. É raro encontrar clínica aberta nesse horário.
FABIANA – Não precisa me agradecer.
A paciente levanta da poltrona, pega sua bolsa e se retira da sala. Fabiana vai para o banheiro, tira as luvas e se encara no espelho. Ela joga água no rosto e repara as suas olheiras. Fica pensativa se olhando...
CENA 13. ESCOLA SILVINO MONTALEÃO. CASA DE HILDA. SALA. INTERIOR. NOITE
Hilda saindo da cozinha batendo massa de bolo. Fábio sentado no sofá assistindo televisão. Hilda indignada com a notícia sobre a morte de uma criança no Rio de Janeiro.
HILDA – Essa cidade está cada vez mais perigosa. É o quinto caso de criança que morrer por causa de bala perdida.
FÁBIO – Não sei porque você ainda se espanta com esse tipo de notícias. Com certeza é manipulação da globolixo que fica querendo deixar os telespectadores com medo de sair na rua. Daqui a pouco fala que essa bala perdida veio da arma de policial. Sendo que a polícia nos protege desse vermes.
HILDA – O que você tem na cabeça? Cérebro que não poder ser. Pra quem vive caindo nessas fakes news...
Monique entra, passa rápido pela sala e entra no quarto.
HILDA – O que deu nela?
FÁBIO – Deve ter brigado com o namorado.
Hilda preocupada.
CENA 14. QUARTO MONIQUE E RYAN. INTERIOR. NOITE
Ryan vestindo a camisa. Monique entra no quarto, joga a bolsa no chão e deita na cama. Ryan olha preocupado.
RYAN – Que bicho te mordeu?
MONIQUE – Aquele desgraçado do Emerson me enganou mais vez, Ryan. Ele disse que iríamos sair juntos para o cinema, e nem apareceu. Fiquei plantada mais de cinco horas esperando por ele igual uma maluca.
RYAN – Esse menino não toma jeito. Será que não aconteceu um imprevisto? Talvez ele foi atropelado e morreu.
MONIQUE – (enxugando suas lágrimas) – Sai daqui, Ryan. Eu quero ficar sozinha.
RYAN – Mais tarde conversamos melhor.
Ryan beija bochecha de sua irmã, pega sua mochila, seu celular e sai do quarto olhando para sua irmã. Ele fecha a porta. Monique cai no choro...
CENA 15. MANSÃO MONTALEÃO. SALA. INTERIOR. NOITE
Elvira sentada no sofá. Emerson desce a escada apressado.
ELVIRA – Emerson? O que tá fazendo acordado?
EMERSON – Eu sabia que não poderia contar com a senhora. Eu não disse que era pra me acordar antes das cinco?
ELVIRA – Você estava muito cansado, meu amor. Achei melhor deixar você descansando.
EMERSON – Eu sei muito bem das suas intenções... Dessa vez a senhora não vai acabar com o meu namoro, ouviu bem? Sua cobra perversa.
ELVIRA – Que isso?
JORGE HENRIQUE – (entrando na sala) Isso são modos de falar com a sua mãe?
Emerson olha com desprezo para Elvira e se retira.
ELVIRA – Estão vendo como ele me trata?
JORGE HENRIQUE – O que você aprontou dessa vez? Ele não ia falar com você dessa maneira atoa.
ELVIRA – Eu não fiz nada. Ele que acordou atirando pra todos os lados. (levanta do sofá) É melhor eu subir pro meu quarto. Já conseguiram estragar minha noite.
Elvira sobe a escada... Jorge Henrique fica pensativo...
CENA 16. QUARTO DE EMERSON. INTERIOR. NOITE
Elvira entra no quarto e fecha a porta... Ela se aproxima do armário de seu filho, abre uma das gavetas e pega uma cueca de Emerson... Senta na cama, põe a cueca em seu rosto.
ELVIRA – Meu amorzinho...
CENA 17. CALÇADÃO DE COPACABANA. EXTERIOR. NOITE
Ryan parado no ponto. Carros de luxos param em diferentes pontos... Rafaela sai do carro, agradece o cliente e se aproxima de Ryan muito empolgada.
RAFAELA – Resolveu aparecer Branca de Neve? Já estavam rodeando o seu ponto nesses dias.
RYAN – Ninguém aqui é maluco de roubar o meu ponto. Todos aqui sabem que eu sou o protegido do Rato.
RAFAELA – Ontem ele estava atrás de você. Queria te fazer aquela proposta de novo.
RYAN – Ele sabe que eu nunca vou aceitar ser dele.
RAFAELA – Por que não? Você nunca mais iria precisar ficar transando com esses caras que você nunca viu na vida. Tu é bonito pra caramba, tem um corpo perfeito, tem as coxas maravilhosas. Se eu tivesse toda essa beleza, eu estaria bem longe daqui, meu amor.
RYAN – Movimento tá muito fraco?
RAFAELA – Mais ou menos. Hoje mais cedo vieram dois clientes atrás de você. Um deles disseram que vai mandar o motorista atrás de você.
RYAN – Aposto que é aquele banqueiro que sempre faz as minhas vontades.
RAFAELA – E você aproveita muito bem disso, né?
Rafaela e Ryan riem levemente.
Um carro luxuoso para ao lado de Ryan. O motorista abaixa o vidro e encara Ryan.
MOTORISTA – Está disponível?
Ryan encosta os braços na janela do quarto.
RYAN – Pra ele? Sempre.
Ryan entra no carro. Rafaela acenando. O carro vai embora.
CENA 18. ESCOLA SILVINO MONTALEÃO. PORTARIA. EXTERIOR. NOITE
Emerson estaciona o carro, sai do carro e se aproxima da portaria.
EMERSON – Espero que ela me atenda.
Emerson toca a campainha e depois liga para Monique.
CENA 19. QUARTO DE MONIQUE E RYAN. INTERIOR. NOITE
Monique deitada na cama, olhando o celular tocar. Hilda entra no quarto segurando a bandeja.
HILDA – Já que você não quis jantar, eu trouxe esse pedaço dessa torta de queijo e um suquinho.
MONIQUE – Estou sem fome.
Hilda põe a bandeja em cima da estante, senta na cama e segura nas mãos de sua filha.
HILDA – O que houve com você? É o namorado?
MONIQUE – Ele não apareceu no nosso encontro no cinema. Fiquei tão decepcionada com ele, mãe. Não quero nem olhar pra dele, nunca mais na minha vida.
HILDA – Por que você não conversa com ele quando você estiver mais calma? Não adianta nada botar um ponto final nas coisas de cabeça quente. Você senta, conversa com ele, e ouve o que ele tem para te falar. Se te convencer, você dar uma segunda chance. Se não, você termina tudo e bota um ponto final nessa história.
MONIQUE – Eu não sei, mãe... Mas vou seguir o conselho da senhora. Também não vou poder fugir dele por muito tempo. Ele é o filho da dona desta escola.
HILDA – Por mais que você tente fugir dos problemas, ele acaba indo atrás de você, porque não tem escapativa, filha. Ou você encara de frente os seus problemas ou você sofre. Eu só quero o melhor pra você.
MONIQUE – Eu te amo, mãe!
Monique abraça sua mãe.
Hilda - Também minha querida.
TAKES DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO...
O sol nascendo na praia do Leblon... Pessoas andando no calçadão, vista do Cristo redentor para o Rio de Janeiro, homem soltando de asa-delta...
CENA 20. SALA DE IGOR E LUCIANA. INTERIOR. DIA
Danilo sendo abraçado por seus pais.
LUCIANA – Que coisa linda! Nem parece que está completando 26 anos.
IGOR – Agora ele é um homem por completo. (Risos).
DANILO – É tão bom passar o meu aniversário com vocês.
IGOR – Ansioso pra sua festa de mais tarde?
DANILO – Confesso que estou um pouco animado, sabe? São as mesmas caras que eu tenho que ver desde quando eu tinha 1 mês de vida.
LUCIANA – Mas dessa vez chamei apenas pessoas da família, que não são muitos, mas também não são poucos.
IGOR – Bom, tenho que ir trabalhar. Mais tarde o pai está de volta para comemorar com você.
DANILO – Tá bom.
Danilo abraça Igor. Igor beija Luciana e se retira.
LUCIANA – Você quer me falar algo?
DANILO – Sobre?
LUCIANA – Conheço muito bem esse rostinho quando você quer me falar algo.
DANILO – Ai mãe...
Eles andam até sentar no sofá.
DANILO – Tanta coisa aconteceu nessa minha viagem para Portugal. Acabei fazendo amizade com um português e hoje somos super amigos.
LUCIANA – Vai ser legal conhecer esse seu amigo. Ou será que devo dizer namorado?
DANILO – Namorado?
LUCIANA – Danilo... Eu vir suas fotos na sua rede social privada. Vocês dois não estavam parecendo ser amigos como você está me falando. Seja franco comigo, sabe que eu não ligo pra essas coisas.
DANILO – Eu ia te contar, mas fiquei com medo da senhora me rejeitar e não querer que eu fosse mais o seu filho.
LUCIANA – Por que você acha que eu faria isso? Eu sempre soube que você gostava de meninos, e sempre te amei e tratarei da mesma forma de sempre. Eu não acho que ser homossexual seja crime ou algo errado. O importante é que você esteja feliz, isso que importa meu amor.
DANILO – Ai, mãe...
Danilo abraça sua mãe.
DANILO – A senhora não imagina o peso que saiu das minhas costas. Já estava me sentindo um criminoso por não te contar toda a verdade. Eu me preocupo com o meu pai.
LUCIANA – Isso é o de menos. Tenho certeza que seu pai vai te abraçar com todo o amor do mundo.
DANILO – Será?
LUCIANA – Sim.
Close na parede esquerda da escada. Paloma escondida ouvindo toda a conversa.
CENA 21. QUARTO ALINE E FELIPE. INTERIOR. DIA
Felipe deitado na cama (lençol sobre o corpo). Aline sentada na cama, passa creme nas pernas.
ALINE – Tem algum trabalho novo por aí?
FELIPE – Irei entrevistar uma estrela internacional no lugar de um amigo que teve um imprevisto e não vai poder ir. Essa é a grande oportunidade que tenho de alavancar a minha carreira de jornalista.
ALINE – Não sei como você ainda perde tempo trabalhando como jornalista. Você é rico, herdeiro desse condomínio que é imenso, e ainda tem a faculdade em São Paulo. Eu no seu lugar, iria investir em algo que desc e muito dinheiro. (Ela limpa sua pele).
FELIPE – Ainda não sou herdeiro de nada, nem sei se meu pai vai me pôr no testamento dele. Você mesma sabe que nossa relação não é uma das melhores.
ALINE – Amorzinho, então trate de fazer essa relação ser a melhor possível.
Aline veste seu vestido.
FELIPE – Alguma notícia do João Paulo?
ALINE – Ligou ontem e disse que volta semana que vem. Disse que tem uma pessoa para nos "apresentar". Com certeza é uma namoradinha nova.
FELIPE – Por tanto que seja branca.
ALINE – Tenho que ir meu bem... ah, e para de ser racista. Isso é crime, e se você for preso não poderei te defender.
Aline beija Felipe e sai do quarto. Felipe fica pensativo. Tempo.
CENA 22. MANSÃO IGOR E LUCIANA. COZINHA. INTERIOR. DIA
Adrian senta na cadeira. Na mesa tem um pratinho com um pedaço de bolo e um copo de suco. Danilo entra na cozinha.
DANILO – Oi.
Adrian se assusta, levanta da cadeira.
ADRIAN – Oi senhor.
DANILO – Quem é você?
ADRIAN – Me chamo Adrian. Sou filho da Fátima.
Danilo fica feliz ao saber que ele é filho da Fátima e abraça ele. Adrian fica sem jeito. Danilo se afasta.
DANILO – Finalmente eu conheci o tal filho que a Fátima fala com tanto amor e carinho.
ADRIAN – Ela fala de mim?
DANILO – O tempo todo.
ADRIAN – Desse jeito fico até sem graça. Feliz aniversário!
DANILO – Obrigado!
ADRIAN – Eu não tenho presente para te dar, mas eu posso comprar.
DANILO – Não se preocupa com isso. Aparece mais tarde na minha festa. Você será muito bem vindo.
ADRIAN – Agradecido pelo convite.
DANILO – Diz pra sua mãe que eu estou no meu quarto, e que quero muito ver ela.
ADRIAN – Falo sim.
DANILO – Tchau!
Danilo sai da cozinha. Adrian senta tremendo na cadeira e bebe um pouco de suco.
CENA 23. ESCOLA SILVINO MONTALEÃO. CANTINA. INTERIOR. DIA
Hilda servindo os lanches dos alunos. Ryan está atrás do balcão, com a mão apoiada no balcão e sobre seu queixo. Seus olhos fecham de sono e ele quase bate com o rosto no balcão. Ele desperta e bate no rosto. Hilda vê e vai até o balcão.
HILDA – Filho... Por que não vai descansar um pouco? Chegou tarde do trabalho ontem.
RYAN – Não se preocupa comigo, mãe. Estou de boa aqui te ajudando com os pedidos.
Monique vai para cantina.
MONIQUE – Vai descansar, Ryan. Eu ajudo a minha mãe na cantina.
RYAN – Tem certeza?
MONIQUE – Confia.
Ryan abraça sua irmã, ele tira seu avental e sai da cantina. Monique veste o avental.
HILDA – Você não vai trabalhar hoje?
MONIQUE – Pedi um dia de descanso pra dona Fabiana. Hoje não estava com cabeça para ir trabalhar.
HILDA – Já até sei o motivo. E o motivo está bem atrás de você.
Monique olha para trás e vê Emerson.
EMERSON – Será que podemos conversar?
Monique pensativa...
CENA 24. ESCOLA SILVINO MONTALEÃO. PÁTIO. EXTERIOR. DIA
MONIQUE – O que você quer, Emerson?
EMERSON – Queria te pedir desculpas por não ter comparecido no nosso compromisso.
MONIQUE – Por que você não foi? Fiquei igual uma doida parada naquele shopping na esperança que você chegasse atrasado.
EMERSON – Eu estava pernoitado da noite anterior em que sair com os meus amigos pra balada. Acabei dormindo mais que a cama, e acabei acordando tarde da noite. A minha mãe disse que iria me acordar, mas ela não me acordou.
MONIQUE – Sua mãe sempre no meio de tudo que acontece entre a gente. Não sei se nosso namoro vai aguentar sua mãe.
EMERSON – Não fala isso, Monique. Eu amo você, não vou deixar nada atrapalhar o nosso amor que a gente tem um pelo outro. Eu já falei que vou ir embora daquela casa, e comprar um apartamento pra nós dois. Acredite em mim.
Monique fica de costas para Emerson.
EMERSON – Não fica de mal comigo. Eu te amo e não quero te perder.
Emerson pega no braço de Monique. Monique fica de frente para Emerson. Seus rostos vão se aproximando aos poucos e seus lábios se tocam. Emerson e Monique se beijam apaixonadamente.
CENA 25. QUARTO PALOMA. INTERIOR. NOITE
(ao anoitecer...)
Paloma parada de frente para o espelho. Pega o batom vermelho e passa sobre os lábios.
PALOMA – Ai, Danilinho... Se você soubesse o presente que eu tenho para você... Com certeza você não viria pra própria festa. Se prepara, meu querido irmãozinho, porque a festa só está começando.
Paloma beija o espelho.
CENA 26. SALA DE IGOR E LUCIANA. SALA. INTERIOR. NOITE
Sala cheia de convidados, música bossa nova tocando no fundo. Garçom passando entre os convidados com bandeja. Close na Hilda e Ryan. Ryan observa Beto.
RYAN – Não é aquele homem que é o marido da Fabiana?
Hilda olha.
HILDA – É ele mesmo. Dizem que ele é um ótimo delegado.
RYAN – Imagino... É uma pena que ele não está solteiro.
HILDA – Que isso, Ryan?
RYAN – Tô brincando, mãezinha. Jamais desejaria uma coisa que nunca poderia ser meu.
Ryan continua olhando com saliência. Beto ao lado de Fabiana. Percebe os olhares de Ryan e levanta a taça para ele. Ryan sorri discretamente. Corta para: Felipe sentado no sofá. Aline se aproxima, senta no sofá.
ALINE – Se continuar com essa cara ninguém vai querer se aproximar da gente.
FELIPE – Pra mim tanto faz.
O garçom passa. Felipe pega uma taça de champanhe e bebe.
CENA 27. COZINHA. INTERIOR. NOITE
ADRIAN – Eu não quero nessa festa.
FÁTIMA – Por que? O Danilo faz questão da sua presença.
ADRIAN – Não vou me sentir bem no meio daquelas pessoas bacanas.
FÁTIMA – Ninguém vai reparar em você.
ADRIAN – Vai saber.
No fundo: som de aplausos.
FÁTIMA – Vamos logo.
Fátima puxa Adrian.
CENA 28. SALA DE IGOR E LUCIANA. INTERIOR. NOITE
Danilo sendo aplaudido pelos convidados.
LUCIANA – Feliz aniversário!
Luciana abraça Danilo.
IGOR – Sorria pra foto.
Igor tira uma foto de Danilo.
DANILO – Mãe. Pai. Esse aqui é o meu amigo Júlio.
IGOR – Seja muito bem vindo.
JÚLIO – Obrigado!
LUCIANA – Fique a vontade.
Paloma desce a escada, limpa a garganta e para no meio da escada... Todos se viram para olhar Paloma. Paloma em um lindo vestido vermelho longo. Danilo, Igor, Júlio e Luciana olham para a escada.
PALOMA – Já estão sabendo da novidade? (bate palmas) Temos um casal homossexual aqui dentro dessa festa.
Danilo e Júlio se olham. Luciana nervosa. Felipe levanta do sofá.
PALOMA – E esse casal gay é nada menos que... Danilo e seu amiguinho português. É isso mesmo que você ouviram. O Danilo não passa de um gay.
Todos ficam chocados. Paloma manda beijos para Danilo. Congela no Danilo encarando Paloma.
novela criada e escrita por
MARCOS CASTELLI
Participam deste capítulo:
Maria Fernanda Cândido como Luciana
Dan Stulbach como Igor
Débora Falabella como Fabiana
Ricardo Tozzi como Alberto
Thiago Fragoso como Felipe
Regiane Alves como Aline
Marcos Palmeira como Jorge Henrique
Vivianne Pasmanter como Elvira
Danilo Mesquita como Danilo
Giovanna Lancellotti como Paloma
Guilherme Dellorto como Adrian
Louise Cardoso como Fátima
Silva Pfeiffer como Hilda
Leopoldo Pacheco como Fábio
Fábio Beltrão como Ryan
Bruno Guedes como Emerson
Rafaela Sampaio como Monique
José Condessa como Júlio
Brenda Sabryna como Rosária
Vanderson Luz como Sandro
CENA 01. RIO DE JANEIRO, 2021. VISTA GERAL. EXTERIOR. DIA
Planos da Cidade, terça de muito sol, por volta das nove da manhã. A cidade maravilhosa de sempre. Pão de Açúcar, Cristo Redentor, praias cheias... A CAM sobrevoa pelos os edifícios da cidade e corta para:
CENA 02. CARRO DE DANILO. INTERIOR. DIA
Danilo dirigindo. Júlio olhando a paisagem com admiração.
DANILO – Nem tô acreditando que você vai passar o meu aniversário aqui comigo. Confesso que eu quase infartei quando você disse que estava no aeroporto.
JÚLIO – (ri, levemente) Eu queria te fazer uma surpresinha, já que não seria possível você voltar para Portugal.
DANILO – Você sabe que o meu plano era passar o meu aniversário com você, mas... minha família fez questão que eu passasse esse ano com eles.
JÚLIO – Errados eles não estão. Você já passa o ano todo ocupado com o teatro, estudando horrores pra conseguir emplacar um filme lá fora... Nada mais justo você passar pelo menos esse ano com eles.
DANILO – Por que você é tão perfeito?
JÚLIO – Não sou tão "perfeito". Só estou tentando compreender os seus pais. E falar neles... Eles já sabem do nosso relacionamento?
DANILO – Ainda não... Não tive coragem de conversar com eles sobre esse assunto.
JÚLIO – Já passou da hora delas saberem de nós dois.
DANILO – E eles vão saber. Deixa passar toda essa agitação da minha festa, que eu falo com eles sobre o meu amor por você.
Júlio acaricia o rosto de Danilo.
JÚLIO – Eu sou tão apaixonado por você.
Danilo olha sorrindo para Júlio.
DANILO – Eu amo você.
Júlio sorri e beija a mão de Danilo.
CENA 03. QUARTO DANILO. INTERIOR. DIA
Fátima guardando as roupas de Danilo no closet. Adrian entrando com toneladas de travesseiros.
ADRIAN – Onde é que eu deixo isso aqui?
FÁTIMA – Põe em cima da cama.
Adrian põe os travesseiros na cama.
ADRIAN – Nunca carreguei tanto travesseiros como hoje. Gente rica gosta de complicar as coisas, não é mesmo?
FÁTIMA – Isso é porque você ainda não entrou no quarto dos meus patrões. É cheio desses travesseiros sobre a cama.
ADRIAN – Vou passar bem longe de lá.
Fátima ri. Adrian olha para o retrato de Danilo.
ADRIAN – É esse rapaz que é o Danilo?
Fátima se aproxima.
FÁTIMA – É ele mesmo. Esse menino é um amor de pessoa, nem parece ser irmão da Paloma.
Nesse momento Paloma grita o nome de Fátima de seu quarto.
FÁTIMA – Vai começar... Termina de arrumar o quarto pra mim. Daqui a pouco eu volto pra gente tomar um café.
Fátima se retira rapidamente. Adrian ainda olhando fixamente para o retrato de Danilo. Se aproxima, pega o retrato nas mãos e fica admirando.
ADRIAN – É melhor não mexer em nada. Não quero ter problemas com os patrões da minha mãe.
Adrian põe o retrato de volta na cômoda.
CENA 04. QUARTO PALOMA. INTERIOR. DIA
Fátima entra apressada. Paloma saindo do banheiro.
PALOMA – Por que demorou tanto, criatura?
FÁTIMA – Eu estava arrumando o quarto do seu irmão.
PALOMA – Então ele vem mesmo passar o aniversário dele aqui?
FÁTIMA – Foi o que seus pais falaram.
PALOMA – Deus me livre! Isso aqui vai virar uma boate gay.
Paloma senta na cama.
PALOMA – (CONT'D) De tanto viado que vai ter nessa festa.
Fátima constrangida.
PALOMA – (CONT'D) Já estou até vendo as luzes coloridas, músicas da Pabllo Vittar... bandeira arco-íris como tema do bolo. (ri debochando) É cada uma que me aparecer. Só falta ele assumir que gosta de homens. Isso mesmo ele não assume.
FÁTIMA – A senhora vai precisar dos meus serviços?
PALOMA – Eu quero que você faça um prato muito especial para o jantar de hoje à noite. Meu namorado vem dormir comigo, e eu quero que ele se sinta em casa.
FÁTIMA – Seus pais sabem disso?
PALOMA – (ignorando/grossa) Só faça o que estou mandando. Não se esqueça que você está aqui para obedecer, e não pra ficar palpitando no que eu faço ou deixo de fazer.
FÁTIMA – Como a senhora quiser. E qual é o prato que a senhora quer que eu faça?
PALOMA – Estrogonofe de camarão.
FÁTIMA – Pode ser de carne ou frango? É que não temos camarão.
PALOMA – Foi de carne que eu mandei você fazer?
FÁTIMA – Não.
PALOMA – Foi de frango?
FÁTIMA – Não.
PALOMA – Não preciso dizer mais nada, não é mesmo?
FÁTIMA – Não senhora. Com licença.
Fátima se retira com a cabeça baixa.
Paloma encosta as costas no travesseiro e mexe no celular.
CENA 05. BANHEIRO DE BETO E FABIANA. INTERIOR. DIA
Beto entrando no banheiro, exausto. Ele apoia seus braços na pia e fica se encarando no espelho. Respira fundo. Depois ele entra no box e abre o chuveiro. A CAM foca no espelho: mostra o Beto tirando a cueca e sua bunda fica exposta. Fabiana entra.
FABIANA – Será que podemos conversar?
BETO – Não temos nada para conversar. A nossa conversa de ontem já foi o suficiente pra entender que você prefere mais o seu trabalho que o seu próprio marido. Já estou ficando cansado dessa vida que levamos.
FABIANA – Posso falar ou vai ficar difícil?
BETO – Pode falar, doutora Fabiana.
FABIANA – Você tem que entender que esse é o meu trabalho, que não posso abandonar tudo por causa de seus caprichos.
BETO – Meus caprichos? (ri) E desde quando querer sua mulher ao seu lado é capricho? Fabiana... Já faz dois meses que não temos uma relação sexual. Que não sentamos para conversar sobre o nosso futuro, sobre nossas férias no fim de ano. Sabe o que estamos virando? Dois estranhos morando numa mesma casa.
FABIANA – Então esse é o seu problema?
Fabiana tira suas roupas.
BETO – O que você tá fazendo?
FABIANA – Você não falou que estamos dois meses sem transar? Então vamos transar.
Fabiana fica nua. Beto se irrita e segura os braços de Fabiana.
BETO – (gritando) Para com isso! Olha só o que você está fazendo, Fabiana. Eu não quero só transar com você. Eu quero o seu companheirismo, eu quero que você esteja ao meu lado.
FABIANA – Beto...
Beto solta os braços de Fabiana e se retira do banheiro. Fabiana encosta na parede, desce até sentar no chão e cai no choro.
CENA 06. ESCOLA SILVINO MONTALEÃO. CANTINA. INTERIOR. DIA
Hilda varrendo o chão. Fábio entra, olhando ao redor.
FÁBIO – Cadê o Ryan?
HILDA – Foi conversar com o Jorge Henrique.
FÁBIO – Sobre o que?
HILDA – Como é que eu vou saber? É assunto deles, Fábio. Para de ficar perseguindo o menino.
FÁBIO – Eu não gosto desse menino andando por essa escola sozinho. Você sabe o que aconteceu dá última vez.
HILDA – Todo dia agora você vai ficar tocando nesse assunto? Que coisa chata, Fábio. O menino não é mais aquela criança que não sabe o que é certo ou errado.
FÁBIO – A reputação da minha família que me preocupa. Esse menino acabou com a minha reputação e de todo mundo.
Hilda para de passar o pano no chão e põe as mãos na cintura.
HILDA – Que reputação, Fábio? O menino trabalha toda noite pra poder comprar seus remédios caros, porque não temos dinheiro pra ficar comprando vários remédios. O menino sempre faz de tudo pra tentar te agradar, e você vem me falar que ele acabou a sua reputação? Ah, Fábio, vai procurar o que fazer.
FÁBIO – Depois não diga que falei. Esse menino ainda vai voltar a nos decepcionar de novo.
Ryan entra na cantina. Fábio olha com desprezo para seu filho e sai da cantina. Hilda olha sem jeito para Ryan.
RYAN – Deixa ele. Um dia ele vai se arrepender de tudo.
HILDA – Ryan...
Hilda abraça Ryan.
CENA 07. CARRO IGOR. INTERIOR. DIA
Igor está dirigindo indo para casa. Luciana está debruçada pensativa na janela. Igor olha para ela.
IGOR – Você está bem?
LUCIANA – Pensando na vida. Como o tempo passa rápido, né? Ontem mesmo a gente estava adotando o Danilo, e amanhã ele faz 26 anos. Não dá pra acreditar nisso.
IGOR – O mais triste de tudo é que ele não mora mais com a gente. Você sabe que ele quer morar em Portugal, né? Ele está doidinho pra comprar um apartamento e fazer a vida dele fora do Brasil.
LUCIANA – Ele já falou comigo sobre isso.
IGOR – E você concorda dele ir morar fora do país?
LUCIANA – E o que podemos fazer? Ele já é um homem adulto, tem seu próprio dinheiro e pode muito bem ser feliz.
IGOR – Não sei... Tenho medo de acontecer alguma coisa com ele... Não confio muito dele ir morar sozinho, e ainda mais no outro lado do mundo. Se ao menos fosse acompanhado de uma namoradinha ou sei lá do que ele gosta, mas sozinho... Eu não estou cem por cento seguro.
LUCIANA – Quando chegarmos em casa falamos com ele sobre isso, tá bom?
IGOR – Tudo bem.
Luciana segura na mão de Igor. Os dois se olham.
CENA 08. QUARTO PALOMA. INTERIOR. NOITE
(ao anoitecer...)
Paloma retocando o batom. (batidas na porta).
PALOMA – Pode entrar.
Adrian entra.
ADRIAN – O seu namorado acabou de chegar.
PALOMA – Diga que já estou descendo. E avisa para sua mãezinha, que eu não quero você e nem ela andando pela casa. Eu quero ficar sozinha com o meu namorado.
ADRIAN – Sim senhora.
Adrian se retira.
CENA 09. COZINHA. INTERIOR. NOITE
FÁTIMA – Como assim ela mandou nos recolher? Ainda são oito horas da noite.
ADRIAN – É melhor fazer o que ela mandou. Vamos deixar tudo arrumado e irmos para o nosso quarto.
FÁTIMA – Que falta está fazendo os meus patrões. Só eles pra controlar essa menina.
Fátima inconformada.
CENA 10. SALA DE IGOR E LUCIANA. INTERIOR. NOITE
Sandro sentado no sofá. De repente, ele olha para a escada e vê Paloma. Paloma vestida com uma linda lingerie vermelha sexy. Sandro levanta, boquiaberto. Paloma desce a escada, se aproxima de Sandro.
PALOMA – Gostou da surpresinha?
SANDRO – Eu amei! Você fica muito gostosa vestida assim.
PALOMA – Que tal aproveitarmos que estamos só, e fazer aquele amor bem gostoso? Com direito a gemidas bem gostosas no seu ouvido e uma gozada maravilhosa.
Sandro morde os lábios ouvindo Paloma. Paloma joga Sandro no sofá. Ela tira a blusa dele, a calça que ele estava vestindo e deixa ele só de cueca. Paloma ri e se afasta, dançando para Sandro, deixando ele cada vez mais excitado. Ele põe seu pênis para fora da cueca e começa a se masturbar assistindo Paloma dançar. Paloma tira sua calcinha e joga para Sandro. Sandro levanta do sofá e tira o sutiã dela. Paloma fica nua. Ela agarra Sandro e os dois caem no sofá se beijando. Igor abre a porta da mansão e se depara com Paloma e Sandro se beijando pelados no sofá. Luciana entra em seguida na mansão e fica indignada com o que ver. Sandro beijando o pescoço da Paloma, ele abre o olho e vê os pais da Paloma. Ele se assusta e joga Paloma no chão.
PALOMA – Que isso, San... (olha para a porta)
IGOR (bravo) – Mas que pouca vergonha é essa aqui dentro da minha casa, Paloma?
Close no rosto de Paloma sorrindo nervosa para seus pais.
PALOMA – O que vocês estão fazendo aqui? Não era pra vocês voltarem amanhã de manhã?
LUCIANA – Estou indignada com você, Paloma. Não respeita nem a própria casa?
IGOR – Eu sabia que não era uma boa ideia deixar você sozinha nessa mansão. Uma garota que não tem limites, uma irresponsável.
Paloma veste sua calcinha e tapa seus seios com o braço. Sandro esconde suas coisas com o travesseiro.
PALOMA – O que foi, hein? Posso nem transar mais nesta casa?
IGOR – Você pode transar onde e com quem você quiser, mas não na sala da minha casa. Que falta de respeito é esse menina?
PALOMA – Era por isso que eu queria ter a minha própria casa. Porque morando sozinha, eu teria a minha privacidade, e não ficaria aqui ouvindo gracinhas de vocês dois. Dois tapados que só passam a mão na cabeça do filho viado que vocês.
IGOR – Não ofende o seu irmão.
PALOMA – Esqueci que não pode falar do cristalzinho sensível.
Paloma pega seu sutiã que está no chão e sobe para revoltada para o quarto.
LUCIANA – Eu vou conversar com ela.
Luciana sobe a escada. Igor olha para Sandro.
IGOR – Vai ficar aí parado? Bota logo essa roupa e some da minha frente.
Sandro se apressa e começa a pôr sua roupa.
CENA 11. QUARTO PALOMA. INTERIOR. NOITE
Luciana entra no quarto. Paloma saindo do banheiro.
PALOMA – O que você quer?
LUCIANA – Que cena ridícula foi aquela que você fez? Não foi dessa maneira que seu pai e eu te educamos.
PALOMA – Claro que não foi. Esqueceu que vocês passaram todo o tempo se dedicando ao esquisito do meu irmão?
LUCIANA – Você está com ciúmes do Danilo?
PALOMA – Vocês nunca gostaram de mim, nunca me escutam, nunca deixa eu chegar perto de vocês e não posso fazer nada que vocês criticam. O que vocês querem, me matar? É isso? Porque se for, já está conseguindo.
LUCIANA – O que você queria que eu fizesse? Você estava transando com o seu namorado no sofá da sala, e ainda quer que eu aplaudo? Você foi extremamente ridícula que não se dar ao respeito a si mesma. Você tem que respeitar a casa dos seus pais.
PALOMA – (gritando) Eu quero morrer! É tudo que eu quero nesse momento.
LUCIANA – Não seja dramática.
Luciana vira as costas e se retira do quarto. Paloma se revolta e joga o abajur no chão.
CENA 12. CLÍNICA DE FABIANA. SALA. INTERIOR. NOITE
Fabiana aplicando botox em uma mulher (aparenta ter uns 40 anos, branca, olhos claros, loira e cabelos longos).
MULHER – Essa semana eu tenho um jantar muito especial com o meu marido. Ele é empresário, quase não fica em casa, mas sempre faz de tudo para me agradar. É jóias, roupas caras, bolsas de grife, sapatos um melhores que o outro...
Fabiana ri levemente.
MULHER – Eu amo o meu marido. Faço de tudo pra fazer ele feliz. Eu acho que nos mulheres deveríamos valorizar mais os nosso maridos, sabia? Claro, se ele nos valorizar também. Hoje em dia tem sido muito difícil encontrar homens que prestem. Um homem que saiba valorizar o seu esforço, que faça elogios ao seu cabelo, que se declara todos os dias pra você. Enfim, eu valorizo o meu casamento.
Fabiana termina a aplicação.
FABIANA – Prontinho.
MULHER – Quando que essas rugas começam a sumir?
FABIANA – Aproximadamente entre dois e três dias. Mas por segurança, você retorna na semana que vem, só pra fazer algumas avaliações.
MULHER – Muito obrigada, doutora! A senhora me salvou e ainda salvou o meu casamento. É raro encontrar clínica aberta nesse horário.
FABIANA – Não precisa me agradecer.
A paciente levanta da poltrona, pega sua bolsa e se retira da sala. Fabiana vai para o banheiro, tira as luvas e se encara no espelho. Ela joga água no rosto e repara as suas olheiras. Fica pensativa se olhando...
CENA 13. ESCOLA SILVINO MONTALEÃO. CASA DE HILDA. SALA. INTERIOR. NOITE
Hilda saindo da cozinha batendo massa de bolo. Fábio sentado no sofá assistindo televisão. Hilda indignada com a notícia sobre a morte de uma criança no Rio de Janeiro.
HILDA – Essa cidade está cada vez mais perigosa. É o quinto caso de criança que morrer por causa de bala perdida.
FÁBIO – Não sei porque você ainda se espanta com esse tipo de notícias. Com certeza é manipulação da globolixo que fica querendo deixar os telespectadores com medo de sair na rua. Daqui a pouco fala que essa bala perdida veio da arma de policial. Sendo que a polícia nos protege desse vermes.
HILDA – O que você tem na cabeça? Cérebro que não poder ser. Pra quem vive caindo nessas fakes news...
Monique entra, passa rápido pela sala e entra no quarto.
HILDA – O que deu nela?
FÁBIO – Deve ter brigado com o namorado.
Hilda preocupada.
CENA 14. QUARTO MONIQUE E RYAN. INTERIOR. NOITE
Ryan vestindo a camisa. Monique entra no quarto, joga a bolsa no chão e deita na cama. Ryan olha preocupado.
RYAN – Que bicho te mordeu?
MONIQUE – Aquele desgraçado do Emerson me enganou mais vez, Ryan. Ele disse que iríamos sair juntos para o cinema, e nem apareceu. Fiquei plantada mais de cinco horas esperando por ele igual uma maluca.
RYAN – Esse menino não toma jeito. Será que não aconteceu um imprevisto? Talvez ele foi atropelado e morreu.
MONIQUE – (enxugando suas lágrimas) – Sai daqui, Ryan. Eu quero ficar sozinha.
RYAN – Mais tarde conversamos melhor.
Ryan beija bochecha de sua irmã, pega sua mochila, seu celular e sai do quarto olhando para sua irmã. Ele fecha a porta. Monique cai no choro...
CENA 15. MANSÃO MONTALEÃO. SALA. INTERIOR. NOITE
Elvira sentada no sofá. Emerson desce a escada apressado.
ELVIRA – Emerson? O que tá fazendo acordado?
EMERSON – Eu sabia que não poderia contar com a senhora. Eu não disse que era pra me acordar antes das cinco?
ELVIRA – Você estava muito cansado, meu amor. Achei melhor deixar você descansando.
EMERSON – Eu sei muito bem das suas intenções... Dessa vez a senhora não vai acabar com o meu namoro, ouviu bem? Sua cobra perversa.
ELVIRA – Que isso?
JORGE HENRIQUE – (entrando na sala) Isso são modos de falar com a sua mãe?
Emerson olha com desprezo para Elvira e se retira.
ELVIRA – Estão vendo como ele me trata?
JORGE HENRIQUE – O que você aprontou dessa vez? Ele não ia falar com você dessa maneira atoa.
ELVIRA – Eu não fiz nada. Ele que acordou atirando pra todos os lados. (levanta do sofá) É melhor eu subir pro meu quarto. Já conseguiram estragar minha noite.
Elvira sobe a escada... Jorge Henrique fica pensativo...
CENA 16. QUARTO DE EMERSON. INTERIOR. NOITE
Elvira entra no quarto e fecha a porta... Ela se aproxima do armário de seu filho, abre uma das gavetas e pega uma cueca de Emerson... Senta na cama, põe a cueca em seu rosto.
ELVIRA – Meu amorzinho...
CENA 17. CALÇADÃO DE COPACABANA. EXTERIOR. NOITE
Ryan parado no ponto. Carros de luxos param em diferentes pontos... Rafaela sai do carro, agradece o cliente e se aproxima de Ryan muito empolgada.
RAFAELA – Resolveu aparecer Branca de Neve? Já estavam rodeando o seu ponto nesses dias.
RYAN – Ninguém aqui é maluco de roubar o meu ponto. Todos aqui sabem que eu sou o protegido do Rato.
RAFAELA – Ontem ele estava atrás de você. Queria te fazer aquela proposta de novo.
RYAN – Ele sabe que eu nunca vou aceitar ser dele.
RAFAELA – Por que não? Você nunca mais iria precisar ficar transando com esses caras que você nunca viu na vida. Tu é bonito pra caramba, tem um corpo perfeito, tem as coxas maravilhosas. Se eu tivesse toda essa beleza, eu estaria bem longe daqui, meu amor.
RYAN – Movimento tá muito fraco?
RAFAELA – Mais ou menos. Hoje mais cedo vieram dois clientes atrás de você. Um deles disseram que vai mandar o motorista atrás de você.
RYAN – Aposto que é aquele banqueiro que sempre faz as minhas vontades.
RAFAELA – E você aproveita muito bem disso, né?
Rafaela e Ryan riem levemente.
Um carro luxuoso para ao lado de Ryan. O motorista abaixa o vidro e encara Ryan.
MOTORISTA – Está disponível?
Ryan encosta os braços na janela do quarto.
RYAN – Pra ele? Sempre.
Ryan entra no carro. Rafaela acenando. O carro vai embora.
CENA 18. ESCOLA SILVINO MONTALEÃO. PORTARIA. EXTERIOR. NOITE
Emerson estaciona o carro, sai do carro e se aproxima da portaria.
EMERSON – Espero que ela me atenda.
Emerson toca a campainha e depois liga para Monique.
CENA 19. QUARTO DE MONIQUE E RYAN. INTERIOR. NOITE
Monique deitada na cama, olhando o celular tocar. Hilda entra no quarto segurando a bandeja.
HILDA – Já que você não quis jantar, eu trouxe esse pedaço dessa torta de queijo e um suquinho.
MONIQUE – Estou sem fome.
Hilda põe a bandeja em cima da estante, senta na cama e segura nas mãos de sua filha.
HILDA – O que houve com você? É o namorado?
MONIQUE – Ele não apareceu no nosso encontro no cinema. Fiquei tão decepcionada com ele, mãe. Não quero nem olhar pra dele, nunca mais na minha vida.
HILDA – Por que você não conversa com ele quando você estiver mais calma? Não adianta nada botar um ponto final nas coisas de cabeça quente. Você senta, conversa com ele, e ouve o que ele tem para te falar. Se te convencer, você dar uma segunda chance. Se não, você termina tudo e bota um ponto final nessa história.
MONIQUE – Eu não sei, mãe... Mas vou seguir o conselho da senhora. Também não vou poder fugir dele por muito tempo. Ele é o filho da dona desta escola.
HILDA – Por mais que você tente fugir dos problemas, ele acaba indo atrás de você, porque não tem escapativa, filha. Ou você encara de frente os seus problemas ou você sofre. Eu só quero o melhor pra você.
MONIQUE – Eu te amo, mãe!
Monique abraça sua mãe.
Hilda - Também minha querida.
TAKES DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO...
O sol nascendo na praia do Leblon... Pessoas andando no calçadão, vista do Cristo redentor para o Rio de Janeiro, homem soltando de asa-delta...
CENA 20. SALA DE IGOR E LUCIANA. INTERIOR. DIA
Danilo sendo abraçado por seus pais.
LUCIANA – Que coisa linda! Nem parece que está completando 26 anos.
IGOR – Agora ele é um homem por completo. (Risos).
DANILO – É tão bom passar o meu aniversário com vocês.
IGOR – Ansioso pra sua festa de mais tarde?
DANILO – Confesso que estou um pouco animado, sabe? São as mesmas caras que eu tenho que ver desde quando eu tinha 1 mês de vida.
LUCIANA – Mas dessa vez chamei apenas pessoas da família, que não são muitos, mas também não são poucos.
IGOR – Bom, tenho que ir trabalhar. Mais tarde o pai está de volta para comemorar com você.
DANILO – Tá bom.
Danilo abraça Igor. Igor beija Luciana e se retira.
LUCIANA – Você quer me falar algo?
DANILO – Sobre?
LUCIANA – Conheço muito bem esse rostinho quando você quer me falar algo.
DANILO – Ai mãe...
Eles andam até sentar no sofá.
DANILO – Tanta coisa aconteceu nessa minha viagem para Portugal. Acabei fazendo amizade com um português e hoje somos super amigos.
LUCIANA – Vai ser legal conhecer esse seu amigo. Ou será que devo dizer namorado?
DANILO – Namorado?
LUCIANA – Danilo... Eu vir suas fotos na sua rede social privada. Vocês dois não estavam parecendo ser amigos como você está me falando. Seja franco comigo, sabe que eu não ligo pra essas coisas.
DANILO – Eu ia te contar, mas fiquei com medo da senhora me rejeitar e não querer que eu fosse mais o seu filho.
LUCIANA – Por que você acha que eu faria isso? Eu sempre soube que você gostava de meninos, e sempre te amei e tratarei da mesma forma de sempre. Eu não acho que ser homossexual seja crime ou algo errado. O importante é que você esteja feliz, isso que importa meu amor.
DANILO – Ai, mãe...
Danilo abraça sua mãe.
DANILO – A senhora não imagina o peso que saiu das minhas costas. Já estava me sentindo um criminoso por não te contar toda a verdade. Eu me preocupo com o meu pai.
LUCIANA – Isso é o de menos. Tenho certeza que seu pai vai te abraçar com todo o amor do mundo.
DANILO – Será?
LUCIANA – Sim.
Close na parede esquerda da escada. Paloma escondida ouvindo toda a conversa.
CENA 21. QUARTO ALINE E FELIPE. INTERIOR. DIA
Felipe deitado na cama (lençol sobre o corpo). Aline sentada na cama, passa creme nas pernas.
ALINE – Tem algum trabalho novo por aí?
FELIPE – Irei entrevistar uma estrela internacional no lugar de um amigo que teve um imprevisto e não vai poder ir. Essa é a grande oportunidade que tenho de alavancar a minha carreira de jornalista.
ALINE – Não sei como você ainda perde tempo trabalhando como jornalista. Você é rico, herdeiro desse condomínio que é imenso, e ainda tem a faculdade em São Paulo. Eu no seu lugar, iria investir em algo que desc e muito dinheiro. (Ela limpa sua pele).
FELIPE – Ainda não sou herdeiro de nada, nem sei se meu pai vai me pôr no testamento dele. Você mesma sabe que nossa relação não é uma das melhores.
ALINE – Amorzinho, então trate de fazer essa relação ser a melhor possível.
Aline veste seu vestido.
FELIPE – Alguma notícia do João Paulo?
ALINE – Ligou ontem e disse que volta semana que vem. Disse que tem uma pessoa para nos "apresentar". Com certeza é uma namoradinha nova.
FELIPE – Por tanto que seja branca.
ALINE – Tenho que ir meu bem... ah, e para de ser racista. Isso é crime, e se você for preso não poderei te defender.
Aline beija Felipe e sai do quarto. Felipe fica pensativo. Tempo.
CENA 22. MANSÃO IGOR E LUCIANA. COZINHA. INTERIOR. DIA
Adrian senta na cadeira. Na mesa tem um pratinho com um pedaço de bolo e um copo de suco. Danilo entra na cozinha.
DANILO – Oi.
Adrian se assusta, levanta da cadeira.
ADRIAN – Oi senhor.
DANILO – Quem é você?
ADRIAN – Me chamo Adrian. Sou filho da Fátima.
Danilo fica feliz ao saber que ele é filho da Fátima e abraça ele. Adrian fica sem jeito. Danilo se afasta.
DANILO – Finalmente eu conheci o tal filho que a Fátima fala com tanto amor e carinho.
ADRIAN – Ela fala de mim?
DANILO – O tempo todo.
ADRIAN – Desse jeito fico até sem graça. Feliz aniversário!
DANILO – Obrigado!
ADRIAN – Eu não tenho presente para te dar, mas eu posso comprar.
DANILO – Não se preocupa com isso. Aparece mais tarde na minha festa. Você será muito bem vindo.
ADRIAN – Agradecido pelo convite.
DANILO – Diz pra sua mãe que eu estou no meu quarto, e que quero muito ver ela.
ADRIAN – Falo sim.
DANILO – Tchau!
Danilo sai da cozinha. Adrian senta tremendo na cadeira e bebe um pouco de suco.
CENA 23. ESCOLA SILVINO MONTALEÃO. CANTINA. INTERIOR. DIA
Hilda servindo os lanches dos alunos. Ryan está atrás do balcão, com a mão apoiada no balcão e sobre seu queixo. Seus olhos fecham de sono e ele quase bate com o rosto no balcão. Ele desperta e bate no rosto. Hilda vê e vai até o balcão.
HILDA – Filho... Por que não vai descansar um pouco? Chegou tarde do trabalho ontem.
RYAN – Não se preocupa comigo, mãe. Estou de boa aqui te ajudando com os pedidos.
Monique vai para cantina.
MONIQUE – Vai descansar, Ryan. Eu ajudo a minha mãe na cantina.
RYAN – Tem certeza?
MONIQUE – Confia.
Ryan abraça sua irmã, ele tira seu avental e sai da cantina. Monique veste o avental.
HILDA – Você não vai trabalhar hoje?
MONIQUE – Pedi um dia de descanso pra dona Fabiana. Hoje não estava com cabeça para ir trabalhar.
HILDA – Já até sei o motivo. E o motivo está bem atrás de você.
Monique olha para trás e vê Emerson.
EMERSON – Será que podemos conversar?
Monique pensativa...
CENA 24. ESCOLA SILVINO MONTALEÃO. PÁTIO. EXTERIOR. DIA
MONIQUE – O que você quer, Emerson?
EMERSON – Queria te pedir desculpas por não ter comparecido no nosso compromisso.
MONIQUE – Por que você não foi? Fiquei igual uma doida parada naquele shopping na esperança que você chegasse atrasado.
EMERSON – Eu estava pernoitado da noite anterior em que sair com os meus amigos pra balada. Acabei dormindo mais que a cama, e acabei acordando tarde da noite. A minha mãe disse que iria me acordar, mas ela não me acordou.
MONIQUE – Sua mãe sempre no meio de tudo que acontece entre a gente. Não sei se nosso namoro vai aguentar sua mãe.
EMERSON – Não fala isso, Monique. Eu amo você, não vou deixar nada atrapalhar o nosso amor que a gente tem um pelo outro. Eu já falei que vou ir embora daquela casa, e comprar um apartamento pra nós dois. Acredite em mim.
Monique fica de costas para Emerson.
EMERSON – Não fica de mal comigo. Eu te amo e não quero te perder.
Emerson pega no braço de Monique. Monique fica de frente para Emerson. Seus rostos vão se aproximando aos poucos e seus lábios se tocam. Emerson e Monique se beijam apaixonadamente.
CENA 25. QUARTO PALOMA. INTERIOR. NOITE
(ao anoitecer...)
Paloma parada de frente para o espelho. Pega o batom vermelho e passa sobre os lábios.
PALOMA – Ai, Danilinho... Se você soubesse o presente que eu tenho para você... Com certeza você não viria pra própria festa. Se prepara, meu querido irmãozinho, porque a festa só está começando.
Paloma beija o espelho.
CENA 26. SALA DE IGOR E LUCIANA. SALA. INTERIOR. NOITE
Sala cheia de convidados, música bossa nova tocando no fundo. Garçom passando entre os convidados com bandeja. Close na Hilda e Ryan. Ryan observa Beto.
RYAN – Não é aquele homem que é o marido da Fabiana?
Hilda olha.
HILDA – É ele mesmo. Dizem que ele é um ótimo delegado.
RYAN – Imagino... É uma pena que ele não está solteiro.
HILDA – Que isso, Ryan?
RYAN – Tô brincando, mãezinha. Jamais desejaria uma coisa que nunca poderia ser meu.
Ryan continua olhando com saliência. Beto ao lado de Fabiana. Percebe os olhares de Ryan e levanta a taça para ele. Ryan sorri discretamente. Corta para: Felipe sentado no sofá. Aline se aproxima, senta no sofá.
ALINE – Se continuar com essa cara ninguém vai querer se aproximar da gente.
FELIPE – Pra mim tanto faz.
O garçom passa. Felipe pega uma taça de champanhe e bebe.
CENA 27. COZINHA. INTERIOR. NOITE
ADRIAN – Eu não quero nessa festa.
FÁTIMA – Por que? O Danilo faz questão da sua presença.
ADRIAN – Não vou me sentir bem no meio daquelas pessoas bacanas.
FÁTIMA – Ninguém vai reparar em você.
ADRIAN – Vai saber.
No fundo: som de aplausos.
FÁTIMA – Vamos logo.
Fátima puxa Adrian.
CENA 28. SALA DE IGOR E LUCIANA. INTERIOR. NOITE
Danilo sendo aplaudido pelos convidados.
LUCIANA – Feliz aniversário!
Luciana abraça Danilo.
IGOR – Sorria pra foto.
Igor tira uma foto de Danilo.
DANILO – Mãe. Pai. Esse aqui é o meu amigo Júlio.
IGOR – Seja muito bem vindo.
JÚLIO – Obrigado!
LUCIANA – Fique a vontade.
Paloma desce a escada, limpa a garganta e para no meio da escada... Todos se viram para olhar Paloma. Paloma em um lindo vestido vermelho longo. Danilo, Igor, Júlio e Luciana olham para a escada.
PALOMA – Já estão sabendo da novidade? (bate palmas) Temos um casal homossexual aqui dentro dessa festa.
Danilo e Júlio se olham. Luciana nervosa. Felipe levanta do sofá.
PALOMA – E esse casal gay é nada menos que... Danilo e seu amiguinho português. É isso mesmo que você ouviram. O Danilo não passa de um gay.
Todos ficam chocados. Paloma manda beijos para Danilo. Congela no Danilo encarando Paloma.
